14/12/2008

A MEDIA NAS ELEIÇÕES



Manuel Vieira começou por apresentar-se espelhando a sua experiência na área jornalística, através da sua trajectória, e convidou a todos para uma troca de experiência olhando pelos diversos pontos de vistas sobre o papel da media.

Porquê que o jornalismo optou por ser tratado de média? Questionou Vieira - "porque um jornalista medeia entre os poderes constituídos (poder legislativo, poder executivo, e poder judicial) e a população. Ou seja entre os 3 poderes que estão no topo e a população. A sociedade civil que está em baixo, encontra no jornalista o veiculo de transmissão da base para o topo, isto é, os nossos anseios, recados, satisfações são lançados aos três poderes mediante o jornalista", frisou o chefe do departamento de informação da Rádio Ecclésia.

"Ao mesmo tempo que o poder tiver uma posição a passar à base, utiliza os meios de comunicação social para transmitir essas ideias, são as decisões do conselho de ministros, as posições do Presidente da República, posições do governo que são efectivamente difundidas à população mediante a comunicação social". Acrescenta ainda “imaginem uma sociedade como a nossa sem comunicação social em que a decisões a serem tomadas pelo Executivo, Legislativo a Assembleia Nacional que não chegam aos nossos conhecimentos, porque não há comunicação social?”

"Alguém já um dia pensou em acordar e já não ter televisão para sintonizar, não ter rádio para ouvir e nem jornal para ler, é quase impensável nas sociedades modernas, daí a palavra Média. O papel da média é exactamente este “MEDIAR”! Foi então que prelector entrou profundamente no tema em debate.

Como parte do objecto em discurso, Manuel começou com o conceito de “PROCESSO”, onde defendeu que denota desenvolvimento, caminhada. E o que é isso democratização? Interrogou Vieira. "Angola depois do mono partidarismo em 1991, aderiu a esta nova forma de nós nos vermos representados junto dos poderes, sermos participes da própria governação, mediante as eleições, realçando a importância do sufrágio directo e universal. E pelo tema notamos que o papel da média não é estanque, não parou porque vai se desenvolvendo consoante a sociedade vai avençando."

"Vamos falar do papel da média no processo de democratização" - convida os presentes - "e gostaria de chamar a vossa atenção aos aspectos concretos e como este papel tem sido feito hoje por hoje."

"Na primeira quintas de debates, em que Filomeno vieira Lopes foi o prelector, muitos dos participantes tocaram no papel da média no processo das eleições e queria aproveitar a ocasião para tocar neste aspecto porque é aquele que é mais recente."

"Na sua dissertação Manuel Vieira exemplifica o papel da média baseando-se no mais recente acontecimento histórico de Angola "as eleições legislativas” onde o papel da mesma foi extremamente crucial e a que mais contribuiu para o resultado da assembleia nacional.
Realça que a média enquanto as eleições legislativas teve o papel mais notado e mais importante durante o ano de 2008, concordam?" - Novamente questiona.

É que no decorrer do sufrágio “o papel do jornalista foi extremamente notado para o bem ou para o mal, para o negativo ou positivo, mas foi notado”

Muito bem, principiou o prelector, naquele debate os nossos amigos colocaram muito a questão da independência dos órgãos de comunicação social. Independência, será que os órgãos da comunicação social em Angola são realmente livres? Que papel é que foi prestado pela RNA, órgão publico, lembrou Vieira e temos o jornal de Angola e a Angop (agência de noticias) tem um papel bastante importante, não foram realizados debates com os mandatários das várias listas, não houve oportunidade de alguns políticos que não sejam o MPLA, de maneira livre exprimirem aquilo que pensavam” - o chefe do departamento de informação da rádio ecclésia fundamenta dizendo - “houve uma cobertura extremamente próxima ao MPLA e muitas vezes conotadas ao partido maioritário”

“Para vossa informação, ontém um grupo do sindicato da RNA, reprovou o trabalho da própria rádio nacional durante as últimas eleições". Defende “não me falem de meios porque a imprensa pública tem os meios todos, eles estão garantidos” e questiona ainda que papel é que foi prestado pelos órgão públicos e privados? Os órgãos privados com todas as dificuldades, porque o estado até hoje não cede um luei de apoio à média privada, mas mesmo assim fez o seu trabalho!”

Manuel Vieira, continuou fundamentado o papel prestado pela média durante o o processo eleitoral, focalizando apenas o semanário angolonse e o jornal a capital como imprensa escrita que desenvolveram debates entre os mandatários de listas ou pessoas entendidas, sobre temas relacionados às eleições que considera como forma do eleitorado se informar sobre os programas dos partidos políticos, aí resumidos em pequenos textos, e ter um voto consciente.
Porque, reduzir a avaliação de um partido ao pouco tempo de antena que tinha, apenas 5 minutos para a televisão e dez (10) para a rádio, era extremamente redutor para os servos que elaboravam os programas dos partidos políticos.

Será que a média devia ter feito mais? - Volta a interrogar o prelector, fazendo questão de responder à pergunta - "obviamente que sim, numa sociedade em condições!", afirma Vieira. Vocês notaram que durante a campanha, e antes disso, o ministro da comunicação social sua excelência Rabelais visitou vários pontos do país levando carros, computadores. Até rádios satélites nalgumas províncias foram levados; o estado gastou muito dinheiro, mas eu estou em condições de vos dizer que o trabalho foi excessivamente sofrível, a começar pela falta de debates, a oportunidade igual para todos os autores políticos terem que participar.

Então que papel deve ter a comunicação para o processo democratização? Apesar de que a democratização constrói-se todos os dias, mas tem nas eleições um ponto extremamente importante, porque é nas eleições que temos a oportunidade de ir às urnas votar e mandatar para nos afigurar na assembleia nacional.

Durante sua exposição, frisou diversos aspectos importante em que a Média deve actuar e espelhar mediante as mesmas o seu papel. E especificou CÃO DE GUARDA DA DEMOCRACIA, como papel crucial da Média, no processo de democratização.

05/12/2008

A participação política da juventude angolana

Introdução

Parece que a imagem do jovem sinónimo de refractário da política está muito disseminada entre nós. E, daí a importância do tema escolhido pela associação Omunga para esta conferência: “A participação política da juventude angolana”. Sobretudo porque vivemos numa sociedade fechada, cujo modelo de governação permanece numa lógica de controlo da sociedade e desta sobre os seus membros.

Mas, quando penso num tema destes, a primeira preocupação que me ocorre é a da necessidade de uma precisão de conceitos, para saber o que é isso de ser jovem e o que é que significa a expressão “participação política”.

A juventude é um momento de passagem entre a adolescência e a vida adulta. É, por isto, um conceito cronológico, um momento do desenvolvimento biológico e intelectual do homem. Embora neste capítulo, Jean-Paul Sartre afirmasse que “ a juventude não é uma idade mas uma maneira de estar na vida”. E, neste sentido, segundo o filósofo francês, podia-se ser adulto e manter-se um espírito jovem, e ter-se juventude física e ser-se espiritualmente velho. O fundador do existencialismo entendia pois a juventude como a condição de irreverência em relação aos desafios da vida e a velhice como o conformismo. Ou seja, para Sartre a juventude é ao mesmo tempo um estilo de vida e uma força inconformista, renovadora.

A juventude, sendo um momento do percurso social do Homem que está ligado a determinadas percepções e expectativas, tem sempre um papel preponderante, porque afinal, não há sociedade sem juventude. O papel dos jovens sempre foi fundamental na história política e social do país e, não pode deixar de constituir um factor determinante na transformação social do país.

Grandes líderes nacionais, africanos, americanos, asiáticos e europeus começaram por ser militantes de organizações juvenis, começaram por ter participação em movimentos associativos, em vários domínios (político, cultural e social, estudantil e outros) que funcionaram para eles como verdadeiras escolas de formação cívica.
Nelson Mandela começou por ser membro da juventude do ANC, Agostinho Neto, antes mesmo de ter militado no Mud-juvenil, fez parte da juventude evangélica da Igreja Metodista e participou no jornal cultural do Liceu Salvador Correia, o Estudante. Muitos dos militantes nacionalistas passaram primeiro, e fizeram uma espécie de aprendizado nas organizações juvenis religiosas. A maior parte dos actuais dirigentes políticos passaram por organizações de jovens. O actual Presidente da República foi dirigente de uma organização juvenil. A participação nos movimentos estudantis proporciona aos jovens uma outra visão do mundo. O célebre movimento de estudantes de Maio 1968, em França, mudou o mundo. O movimento de resistência dos estudantes de Soweto mudou a África do Sul e levou ao fim do apartheid.

Definir “participação política” implica descortinar dois conceitos, o de “participação” e o de “política”. Começo por encontrar uma definição de “política” para depois pensar o entendimento de “participação” e, consequentemente, de “participação política”.

Quando se fala de política não rara vezes a primeira coisa que se faz é esclarecer a origem etimológica da palavra do grego politiké (cujo sentido seria o de ciência dos assuntos da polis). Muitas abordagens do tema, definem a política como sendo a organização do poder numa comunidade. Em sentido lato, a política é a forma de organização e funcionamento de uma sociedade. A política é pois uma forma de defesa do interesse comum dos membros de uma comunidade. A política, como forma de organização e funcionamento da polis, visa um interesse universal que diz respeito a todos e não apenas a alguns, como é o caso das formas pré-politicas identificadas por Aristóteles, como é a oikos.o Somente num sentido restrito, a política é associada às lutas pelo controlo e exercício do poder.

Afinal, este conceito não é estanque, e tem evoluído com o decorrer dos tempos, correlacionando-se com outros conceitos. A ideia de que a política refere-se a questões do interesse comum da comunidade, está associada à ideia de espaço comum, de espaço público, onde intervêm uma pluralidade de autores interessados na melhor gestão da res publica. Mas, também está ligada às formas de decisão sobre esse interesse comum.

A política teria assim, três sentidos; o de forma de domínio, o de tecnologia da gestão do interesse comum e o de uma relação de poder.

A participação é entendida como a possibilidade de fazer parte dessa res publica, da sua gestão, dos processos de escolha e decisão. A participação política deve pois ser entendida como fazer parte do espaço público, das escolhas e decisões políticas que dizem respeito a todos.

Apurados os dois conceitos que balizam o nosso tema, creio que para falar da “participação política da juventude angolana”, temos que o fazer em dois momentos: (1) a juventude e a sociedade (relação formação, integração, alienação) e (2) a relação da juventude com a política, ou seja, o processo de tomada de consciência da juventude que a levará à apropriação da política e do espaço público. Para, finalmente, tirar algumas e breves conclusões.


I. A juventude e a alienação na sociedade

É comum afirmar que cada sociedade constrói a sua juventude à sua própria imagem (FORACCHI, Marialice M., 1965, O Estudante e a Transformação da Sociedade Brasileira, São Paulo, Nacional). O nosso país está refém de um poder de predação desde algum tempo. E, desde há alguns anos que se tem a ideia de que os jovens apenas se deixam atrair por “maratonas”. Esta instituição (a “maratona”) foi uma criação do partido de poder para “alienar” os jovens que no dealbar da independência se apresentavam muito implicados com os destinos do país, com as ideias revolucionárias, com o inconformismo.

As representações da sociedade angolana refém dessa economia política de predação seriam tendentes a valorizar e a estimular determinados comportamentos dentro de limites que ela própria estabeleceu e que são os limites da sua legitimação e da sua continuidade, destruindo a capacidade de autonomia da juventude.

Por isto, é que hoje, a ideia que se tem é que os jovens não se interessam pela política, ou pelo menos, não têm participação política. São apáticos em relação aos destinos do país e remetem essa tarefa que lhes é estranha para o “boss do cadeirão maior”. A vida dos jovens poderia pois resumir-se a um estado contemplativo, de pouca entrega para o saber, de permanentes sentadas alcoolizadas, onde se discute futebol, música, o enredo de um esquema e uma ou outra cena cómica da vida.

Esse desinteresse dos jovens pela política estaria associado ao facto de eles não encontrarem nos políticos nenhuma proposta que os seduz, pois estes não reflectem no seu discurso as principais preocupações dos jovens. Estas preocupações seriam a pobreza, o acesso à educação, ao emprego e à habitação.

É claro que os jovens mostram também uma grande desinformação sobre a política, já que os seus meios de (des)informação são os órgãos de comunicação social do Estado, com uma preferência pelos programas de diversão, a despeito dos formativos ou informativos.

A ausência de mecanismos que estimulem a participação dos jovens é consabida. Da mesma maneira que poucos são os mecanismos de participação de todos os cidadãos no espaço político.

Estudos sobre os jovens mostram que estes são mais afoitos a participar em associações religiosas ou desportivas. O que demonstra que não há menor participação dos jovens por falta de disposição ou mesmo desinteresse, mas sim porque não há mecanismos que estimulem e promovam o acesso à informação e a inclusão das pessoas, e nomeadamente dos jovens, na política do país.

A pressão da sociedade para que os jovens se afastem da política, não de uma carreira no Estado (isto é, no partido-Estado) é grande. À esta pressão (sociedade/jovem) contrapõe-se a uma pressão dos jovens sobre a sociedade. O equilíbrio destas duas forças está na sua conjugação e auto-preservação. Mas há um momento em juventude e sociedade hão de ter fricções, choques pois a sociedade nem sempre consegue cumprir com os seus compromissos para com a juventude (ou pelo menos com aquilo que a juventude acha que é o compromisso da sociedade em relação a ela). A percepção que os jovens têm de si mesmo é que eles não contam para nada, mesmo quando se repete o slogan (esvaziado): “a juventude é futuro de uma nação”.

Mas, apesar desse olhar devolutivo de sinal negativo, a juventude representa uma força dinamizadora do sistema social. E por isso vai procurar transforma-lo. A escolha dos meios e dos objectivos pode ser condicionada pela maneira como se lidar com os jovens no presente. “Quem semeia ventos, colhe tempestades! – diz o ditado.

Que imagem a sociedade está formando no jovem? E qual a imagem devolutiva do jovem sobre a sociedade? Pela sua função a juventude, sendo uma sua criação, não será reflexo da sociedade que ela contesta. Pelo contrário, a sociedade é que será o reflexo da sua juventude. Há pois um “parto” anunciado da juventude em relação à sociedade. Este nascer de (que implica em termos simbólicos um separar-se de e um corte do cordão umbilical) não significa uma perda mas uma superação da sua “alienação” do espaço público.

Na medida da sua consciencialização sobre a sua “alienação” do espaço público, a juventude vai dotar-se de mecanismos de superação que o conduzam a autonomia (auto + nomos).

II. A juventude e a política

Um desses mecanismos é a participação política. Pois, a etapa da vida que é a juventude é um momento privilegiado para o despertar para as questões da polis. É normalmente o tempo das interrogações fundadoras do ser humano e, entre estas, estão as referentes a vida da comunidade de pertença.

Vimos, no entanto, que os canais de socialização dos jovens não estimulam a sua participação no espaço público e, nomeadamente na esfera política ou na gestão da res publica. Também porque o país vive um momento particular de desenvolvimento e os nossos jovens estão mais tolhidos por necessidades primárias, já que as suas expectativas não são correspondidas.

É comum acusar os jovens de hoje de não ter mais utopias, de serem muito consumistas, imediatistas, interesseiros, de estarem completamente alienados pelo sistema que os formatou, incorporou e os absorve. Para essas pessoas apenas as gerações passadas são a grande referência.

Mas, a juventude é uma espécie de barómetro social, onde o mercúrio sobe ou desce em função do aquecimento social. Uma sociedade asséptica, cujo cordão sanitário político (mantido por uma policia de contra-inteligência) não permite a menor manifestação dos jovens está em sinal de alerta vermelho. Tudo vai bem, ou tudo vai mal.

O que temos que saber é o porque dessa maneira de estar na sociedade da juventude de hoje, e, nomeadamente em relação à política.

Acontece que a política continua a ser associada a uma actividade de risco. A velha expressão; “Xé menino não fala política”, contínua a perdurar.
Todas as iniciativas de participação em associações ou fóruns locais que não sejam entendidos como prolongamentos da governação (que é entendida como uma coisa diferente da política) e como auxiliares do “governo”, são vistas com desconfiança, são cooptadas, controladas ou perseguidas.

Glosando Dom Hélder da Câmara, célebre bispo brasileiro que se opôs à ditadura militar, pode-se dar pão aos pobres, mas não se pode questionar o porquê dos pobres não terem pão”. As coisas são como são e por isso não devem ser questionadas - este é um pensamento impulsionador do conformismo que está subjacente à actuação do poder político no país.

O que quer dizer que há também necessidade de alteração da organização política do país, de maneira a modificarmos a estrutura de poder político e a construir uma sociedade aberta, de livre iniciativa e emulação de ideais, também no espaço político, de modo a incluir nos processos de decisão e execução das políticas públicas a pluralidade de sujeitos e, particularmente todos aqueles que são directamente interessados ou atingidos por esta política pública.

A juventude tem a potencialidade de ser a principal camada social a promover este reordenamento político, tanto pela sua disposição em participar na construção do seu próprio destino, quer pela sua importância e expressão sociais.

III. Conclusão

Tem pois que romper com o conformismo. E assumir uma cidadania activa, em casa, na escola, no bairro, no município, na província e no país.

A juventude deve desde já construir a sua intervenção social unificada, de modo a exercer maior influência de decisão sobre a política em geral, seja nos movimentos sociais e reivindicativos, seja na política institucionalizada. Isto é gerador de grandes e importantes conquistas sociais para todo o país e para todos (jovens, famílias, comunidade).

Permite promover a inclusão política que é uma das componentes da cidadania activa. O país precisa de investir em políticas sustentadas para a juventude sobretudo quando se sabe que a estrutura etária do país é muito jovem, perfazendo cerca de 60% da população menor de 18 anos.

A própria sociedade precisa dessa participação e intervenção dos jovens, pois ela permite uma renovação dos quadros dirigentes. A experiência mostra que os jovens que participam dos movimentos associativos, sociais e reivindicativos acabam por ocupar posições de relevo na sociedade.

A juventude organizada e consciente dos seus direitos e deveres promove sempre renovação e transformação. Enquanto que a juventude alienada do seu papel social reproduz o modelo da sociedade vigente e, não só perpetua formas de injustiça, como hipoteca o seu (e o nosso) futuro. Pois a ausência de jovens na política provoca desequilíbrios na sociedade.

A juventude angolana não é amorfa, tem é mostrado uma outra realidade que os poderes pretendem ignorar. No gera, não participa em movimentos associativos, sociais e reivindicativos mas organizou formas de resistência próprias através do espaço cultural (indumentária, música e teatro) e nas comunidades locais (familiares, linguísticas ou religiosas). Para além disto, é preciso considerar o silêncio que também uma forma de manifestação e a expressão do seu protesto.

Por isso, a juventude é uma etapa cronológica da vida, é uma entidade inerente ao homem social, é uma potencialidade rebelde e inconformista mas sobretudo sintetiza a possibilidade de uma força de pronunciamento no processo histórico de desenvolvimento do país.

O que precisa é assumir o seu lugar e tempo. As gerações passadas podem ser referência para os jovens de hoje, mas não podem coloniza-los, impedindo que estes cumpram o seu próprio tempo.

Cada geração tem o seu tempo e contexto e deve vivê-los. Assumindo a sua autonomia e visão crítica própria.


Nelson Pestana (Bonavena)
Cientista Político e investigador coordenador do CEIC/UCAN

QUEM SÃO OS NOSSOS PRELECTORES?


NELSON PESTANA é Cientista Político e exerce actualmente a função de investigador-coordenador do Núcleo de Estudos sobre a Pobreza, no Centro de Estudos e Investigação Cientifica (CEIC), da Universidade Católica de Angola (UCAN). Doutorado em Ciência Política, pela Universidade de Montpellier I (França), onde defendeu uma tese (2002) sobre o Estado em Angola (“L’Etat en Angola : discours et pratiques”), depois ter concluído o seu mestrado (1995), igualmente em Ciência Política, com uma dissertação sobre o Discurso Académico sobre o Estado em Portugal (“Le discours savant sur l’Etat au Portugal (1960 -1974)”.

Jurista, licenciado em Direito (1987), pela Faculdade de Direito, da Universidade Agostinho Neto (Angola) é também professor do Instituto Superior João Paulo II (ISUP-JPII), onde lecciona as cadeiras de “Introdução ao Direito”, “Direito Estatal e Costumeiro” e “Política Social”.

Para além de múltiplas participações em colóquios, conferências e congressos das ciências sociais, regista uma regular produção de artigos científicos sobre o Estado, actores sociais e movimentos de mudança em Angola.

No meio literário e cultural angolano é conhecido pelo seu pseudónimo literário, E. Bonavena, com o qual assina recensões críticas, ensaios e artigos sobre a poesia, o romance e a história da literatura angolana, nomeadamente, a história da literatura angolana do século XIX. É membro da União de Escritores Angolanos e autor de “Ulcerado de Mingua Luz” (1986) e “Limites da Luz” (2003). Consta de várias colectâneas de poesia e tem colaboração em revistas em Angola, Brasil, Portugal, França, Itália e Estados Unidos.

Depois de participar na luta de libertação nacional e na resistência civil clandestina à ditadura do partido único, participa na fundação sucessiva da Associação Cívica Angola (ACA), em Janeiro de 1990, e da Frente para a Democracia (FpD), em Janeiro de 1991, da qual é, desde a III Convenção Nacional (Junho 2007), membro do Conselho Nacional, da Comissão Política e coordenador do Conselho Nacional de Estudos e Reflexão (CNER).

01/12/2008

PROTAGONISMO POLÍTICO DA JUVENTUDE: Quais os factores de dinamização da participação política da juventude


1. Introdução


Falar de participação politica da juventude implica a abordagem dos espaços onde acontecem as acções politicas concretas do indivíduo e dos factores que concorrem para a sua realização.

Esta dinâmica participativa tem a ver com um processo de metamorfose pessoal referenciado em valores cívicos e democráticos.

É cada vez mais notório o interesse da juventude angolana em participar na vida politica do país, mas o grande obstáculo tem sido a falta de vontade politica por parte das autoridades governamentais em investir nos mecanismos que contribuam para a formação da consciência politica e cidadã dos jovens.

Aqui parte-se de princípio que a educação não apenas integra o indivíduo ao meio social, mas também lhe proporciona uma maior capacidade de autonomia e, por isso mesmo, de interferência no meio social na conquista de direitos.

Em Angola, as escolas e os meios de comunicação social públicos como espaços de valores por excelência, demitiram-se das suas responsabilidades de fornecer um conjunto de ferramentas necessárias que possibilite aos jovens criarem um mundo simbólico o qual organizam as suas experiências pessoais e assumem a sua autoria no processo de transformação e construção dum país sem exclusão social, pobreza e intimidações.
” Segundo Pedro Cardoso, com a abertura politica de 1992, a consciencialização politica dos angolanos em geral e dos jovens em particular, tem vindo a crescer. Esta percepção encontra eco na visão reduzida ou nula que os jovens têm dos seus direitos políticos enquanto cidadãos.”

2. Comunicação Social

“ Para alguns estudiosos as comunicações não intervém directamente no comportamento explícito, mas sim tende a influenciar o modo como destinatário organiza a sua imagem do ambiente.”

Partindo desta pressuposto, os jovens em função das suas concepções desenvolvem uma sociedade e constroem a sua própria identidade, instalando-se de forma segura no mundo. Mas isso não será possível enquanto o poder da média continuar limitado pelas ambições politica da classe governante.

Alem da falta de pluralismo e imparcialidade dos órgãos públicos de informação angolanos, a imprensa independente tem encontrado serias dificuldades de preencher o vazio deixado pelo Estado na formação da consciência politica da juventude.

Nos últimos tempos, as autoridades angolanas têm desenrolado um conjunto de acções intimidatorias contra jornalistas independentes. A rádio privada, como por exemplo, a Emissora Católica de Angola vê-se impedida de expandir o seu sinal fora da província de Luanda.

Mas que um meio de divulgação dos direitos e deveres do cidadão, a media aparece como um autentico espaço de realização de cidadania da juventude, encontro de culturas e promoção da solidariedade humana.

3. Educação

Não é possível democratizar a sociedade angolana se não transformemos a escola e a família em referência em torno do qual a pessoa se constitui.

Como dizia Paulo Freire “ a satisfação com se põe em face dos alunos, a segurança com que lhes fala, abertura com que ouve, a justiça com lida com os seus problemas fazem do educador democrata um modelo “

A corrupção que ainda grassa no sistema de ensino público angolano tem impedido as crianças e jovem de formarem uma consciência pública.

A escola está longe de ser um espaço de aprendizagem da cidadania e de transformação da juventude em agente da mudança na média em que “o aluno é reduzido a memorização mecânica do que o professor deposita nele.”

A democracia é um processo a longo prazo que não se limita apenas à arena eleitoral formal, mas no alargamento dos novos espaços democráticos e de participação, tendo em conta o contexto, o legado histórico e cultural de cada povo. A democracia é um processo de aprendizagem.


Por António Capalandanda