MCK NO LOBITO, NO
ANIVERSÁRIO DA OMUNGA – “Uma juventude governada por velhos”
(Entrevista em vídeo)
Lobito, 19.06.2017
MCK, o rapper
conhecido também por Katrogi, aterrou no aeroporto da Catumbela, já no final da
manhã de sexta-feira, 16, proveniente de Luanda. O objectivo desta viagem foi o
de participar nas actividades comemorativas do 11º aniversário da OMUNGA.
Inicialmente,
previa-se a realização de um espectáculo de Rap, na comunidade do 16 de Junho,
Bº 27 de Março, zona alta da cidade do Lobito, nesse dia, a partir das 17
horas. Infelizmente, a organização viu-se obrigada a alterar o horário devido à
limitação imposta pela administração municipal do Lobito, que estabelecia as 18
horas, como limite para as actividades.
Várias opiniões acham
que essa limitação de horário teve precisamente como propósito impedir a
realização do referido espectáculo. A OMUNGA tinha organizado actividades no
período da manhã, envolvendo crianças daquela comunidade, de 3 escolas
primárias públicas do Lobito, crianças do Caimbambo e do Huambo, no período da tarde com uma feira
da sociedade civil e uma sessão de graffiti e então, previsto a partir das 17
horas arrancar com o espectáculo de rap que contaria com músicos do Lobito,
Luanda, Huambo e Caimbambo.
É importante recordar
que várias actividades do género organizadas pela OMUNGA, foram várias vezes impedidas e sofreram a
intervenção da polícia, nomeadamente em 2011 e em 2016, durante o OKUPAPALA.
Esta imposição
obrigou à mudança de horários à última da hora, trazendo sérios transtornos na
sua divulgação e mobilização.
Relação
com a OMUNGA
Para mim é sempre um
enorme prazer trabalhar para a OMUNGA ou cooperar com a OMUNGA. Eu acho que a
primeira vez que cá vim foi em 2006, se não estou em erro e desde 2006 até
agora firmámos uma parceria que eu acho que cresce todos os dias e o que me faz
feliz, que me dá prazer de estar cá sempre e das vezes que me dá vontade de
voltar, é a respeitabilidade e a grande preocupação que a OMUNGA tem em
trabalhar no interior das comunidades. E aqui, 16 de Junho, nesse caso
concreto, é uma comunidade que a OMUNGA tem uma parceria praticamente nos 11
anos de existência e para mim é uma das maiores felicidades fazer com que a
minha música contribua para a mudança e o melhoramento das condições de vida
das pessoas. Se a minha música contribui para que as pessoas cresçam a nível de
consciência, se a minha música contribui com que as pessoas consigam colmatar
aquelas insuficiências de educação, do exercício de cidadania, do conhecimento
dos seus próprios direitos, do aprendizado daquilo que são os direitos humanos
e terem instrumentos de defesa e poderem-se defender por si só, para mim é um
enorme prazer.
Acabar um concerto,
perto de 30 minutos [depois] e ter esse calor lá fora, esse barulho, essas
vozes e as pessoas à espera para dar um abraço, para mim é uma mensagem de
esperança e acima de tudo de transformação de consciência. É basicamente o
trabalho que a OMUNGA tem feito e nesse 11º aniversário, tem um tema muito
extraordinário e um momento muito especial no nosso país.
Angola
em momento de pré-campanha eleitoral
Estamos neste preciso
momento a atravessar o momento pré-eleitoral e é desejo da OMUNGA e de todos os
angolanos de boa fé, que tenhamos então eleições verdadeiramente livres,
justas, que tenhamos um processo com lisura, transparência, onde os angolanos
sejam participes da transformação e da edificação de um país onde cada um de
nós pode colocar a sua pedrinha na edificação de um país melhor. Um país que
não seja aquele país hipotético de quem sonhou pela independência antes de 75,
ou de quem viu a paz em 2002 e aspirava a ter a transformação. É o país da
minha geração que, por exemplo, nascemos na década de 80, que querem combater
os novos males que é a corrupção, o nepotismo, o tráfico de influência, coisas que têm estado a obstaculizar, dum modo geral, o futuro do nosso país. Então há
um amor desmedido, aliás, a OMUNGA sabe que no meu coração tem um terreno de 30
por 20 que podem começar a construir a aqualquer altura, que é só mandar
chamar, que eu estarei aqui para me doar completamente pelas causas que a
OMUNGA tem defendido dum tempo a essa parte.
Mensagem
de paz para os principais actores políticos
A minha mensagem principal
para estas eleições, considerando todo o passado histórico que já vivemos, era
uma mensagem de tolerância, onde podessemos, cada um de nós, ouvir um bocadinho
mais os outros, compreender os outros, e perceber que nas nossas diferenças vai
ter a diversidade e a grande riqueza desse mosaico chamado Angola. Se pensarmos
que as ideias diferentes podem conflituar para o encontro do bem comum de
todos, aí vamos respeitar os outros independentemente da cor partidária, da
perspectiva racial, das convicções religiosas, das ideias, enfim, temos que
pensar numa Angola onde cada um de nós é parte, em que ninguém é excluído, uma
Angola inclusiva, onde independentemente das cores partidárias, o país não é
uma empresa, o país é de todos.
Antes de todas as
nossas convicções, vem Angola, vem o país. Se colocarmos o país em primeiro lugar,
seja quem for o candidato, seja quem for o partido, vamos estar ao serviço da
Nação. Ao serviço daquilo que é a maioria em Angola que entretanto são muito
desrespeitados.
População
jovem governada por velhos
A maior parte da nossa
geração é jovem e criança. Os jovens e as crianças não têm espaço no nosso
país. Temos dos piores sítios para nascer. Temos das piores infâncias, aliás,
há quem diga que não existe infância cá. Não temos escola, os jovens não definem
absolutamente nada. O nosso país é governado por velhos. Nós somos uma maioria
sem poder, sem voz, entretanto temos que criar um país inclusivo, onde as
mulheres podem ter espaço, onde tem o equilíbrio do género, o equilíbrio da
competência. Onde se valoriza as pessoas pela competência, não pelas
apresentações, por aquelas gravatas e etc.
Vamos fazer uma
Angola inclusiva onde todas as forças produtivas podem ajudar a construir esse
país de futuro. Essa é a minha mensagem de paz para estas eleições.
Tolerância e respeito
na diferença
Depois pensarmos que temos
que ser sinceros connosco mesmos. Quer dizer, não podemos pensar na fraude, não
podemos pensar no meio caminho. E para quem estiver a nos assistir, se está
feliz, vota na continuidade, mas se eventualmente está insatisfeito, vota na
alternância política.
Eu acho que todos os
países têm que experimentar a mudança, é o meu ponto de vista e alternar é dar
a oportunidade de tornar mais pessoas [como] parte do processo.
Alternância neste
país, neste preciso momento, seria uma política inclusiva.