A 27 de Abril de 2009, uma delegação da Comissão Europeia, liderada pelo Exmo. Sr. Embaixador Sr. João Gabriel Ferreira, visitou a comunidade de jovens moradores de rua, assentados pela Administração Municipal do Lobito no B.º da Lixeira (Lobito) há mais de um ano. No local, os jovens fizeram a entrega de uma carta onde expõem as suas condições e solicitam a intervenção da Comunidade Europeia. Passamos a transcrever a carta na íntegra:
À
Comissão Europeia
Att: Sr. João Gabriel Ferreira
Assunto: Discrição da situação actual dos jovens em situação de rua no centro 16 de junho.
Desejamos boas vindas e agradecemos pela visita que Comissão Europeia faz ao centro 16 de Junho.
No mês de janeiro de 2008 fomos retirados mais de 200 pessoas, crianças e jovens da parada por detrás do banco nacional, para a zona alta para viver em 19 tendas, pela administração municipal do Lobito, pela ordem do Senhor administrador Amaro Ricardo Segunda, com as seguintes promessas:
· Construção de casas para todos dentro de seis meses.
· Arranjar emprego para todos nas seguintes empresas (CFB, Refinaria, Odebrestch e Secil Lobito).
· Dinheiro para as mulheres fazerem negócios.
· Dar formação profissional a todos.
· Dar máquina de fabricar blocos.
· Dar sempre comida e água.
· Meter todos a estudar nas escolas publicas.
· Registrar todos.
Estamos a fazer um ano e três meses e nada que se fez, sempre só vem nos aldrabar dizendo que temos que aguardar. Agora só ficaram 15 tendas e cada vive quatro a seis pessoas. Outras caíram com as chuvas. A situação piorou porque há fome, desemprego não conseguimos ir fazer biscatos porque fica tudo distante. Eles se esqueceram que nos hoje temos outra mentalidade, querem-nos por a viver na mesma situação. Vivendo em centro. Hoje alguns estão a caminho de trinta anos e nada mudou. Formaram apenas 23 jovens nos cursos de serrilharia, eletricidade, e construção civil.
Desde mês de Agosto do ano passado o Dr. Carlos Pacatolo recebeu os certificados dos que terminaram a formação para lhes arranjarem emprego e ate aqui não diz nada. O Administrador nunca vio aqui dar satisfações sobre as promessas mesmo consciente que prometeu e a data passou.
Nós temos vontade de trabalhar , pelo menos que nos empreguem e nos dão material de construção e nós mesmos vamos construir já que eles não conseguem fazer . E gostaríamos que eles nos dessem o documento do terreno que prova que cada um de nós tem uma parte do terreno.
Estamos a ver a administração a construir alguns quartinhos com sala comum, cozinha comum e casa de banho coletiva no mesmo terreno que não passa de capoeira, ninguém sabe se é para nós. Mas se for para nós não estamos de acordo porque não cabe uma família e na maior parte dos jovens tem filhos e os demais esperam ter uma família. O que será das crianças que aumentam cada tempo que passa? As tendas aquecem durante o dia não dá para estar dentro dela, já não estão em condições de aguentar as próximas chuvas. As casas de banhos estão mal e não temos material de limpeza a água por vezes falha e não temos certeza se a mesma água é tratada, nos hospitais ainda não atendem todos apenas alguns e os mesmos são obrigados a comprar os medicamentos porque o nosso postos nunca tem. Junto do 16 de Junho estão a terminar de construir uma unidade policial, estamos preocupados, porque a policia bate e só de saber que vivemos em tendas, não nos vão respeitar vão quer entrar e fazer o que bem entenderem como já aconteceu recentemente, embora o Sr. Comandante municipal tenha vindo depois ter connosco e pedir desculpa que aceitamos.
Queremos que todas as pessoas de boa fé sobretudo a sociedade civil venham continuar a nos ajudar para conseguirmos sair destas dificuldades. Visto que somos vistos como delinquentes pela policia e a sociedade e ainda nos despreza.
Esta carta foi escrita por alguns moradores do centro 16 de junho conjunto com os lideres e queremos que a Comissão Europeia influencie o nosso governo para dar uma solução mais rápida nos nossos problemas. Queremos também que a Comissão Europeia divulgue em nível internacional a violação dos nossos direitos.
Saudações da comissão das tendas do centro 16 de Junho.
Lobito aos 25 de Abril de 2009.
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