Lobito, 27/01/2017
José Horácio é um dos moradores de rua da cidade do Lobito, dos cerca de
200 que a Associação OMUNGA acompanha em 7 paradas nos bairros da Caponte, Zona
Comercial, Restinga e Compão.
Tem 24 anos de idade e vive nas ruas desde criança. Devido a um acidente de
motorizada, há mais de 5 anos, foi amputado pela primeira. De acordo às
informações do Hospital Geral do Lobito, a terceira amputação deverá ocorrer
até 31 de Janeiro.
No entanto, a referida amputação estava a depender da aquisição de todo
material cirúrgico e medicamentos para os curativos, já que o referido hospital
justifica não os possuir.
A OMUNGA mais uma vez interveio no sentido de ajudar com a compra de tal material e equipamento já que, José Horácio, enquanto morador de rua e
desempregado não teria recursos próprios para o fazer.
Este procedimento tem sido constante, por parte da associação. A título de exemplo, a OMUNGA acompanhou e registou, nestas comunidades, 28 óbitos em 2015 e apenas 6 em 2016. Embora a situação tenha agravado a nível de condições hospitalares, esta diminuição deve-se, possivelmente, à estratégia adoptada pela OMUNGA junto à Delegacia de Saúde do Lobito. Assim, através de uma carta, a associação aconselhou a implementação de um processo de acompanhamento dos moradores de rua por parte dos profissionais da saúde. Esta sugestão tinha como propósito poder antecipadamente definir a situação sanitária das diferentes paradas, fazer as devidas orientações para as consultas e também acompanhar a medicação. No entanto, a saúde decidiu que, em vez deste processo de acompanhamento pelas paradas, a OMUNGA se responsabilizasse em encaminhar os doentes para as devidas consultas acompanhados de declarações da associação. Este processo, embora não o ideal, no entanto proporcionou a diminuição dos gastos por parte deste cidadãos que assim deixam de pagar consultas, os raios X e as análises clínicas, podendo assim direccionar os seus parcos recursos para a aquisição dos medicamentos que os hospitais e postos de saúde não possuem.
Devido às condições quase que desumanas em que vivem estes cidadãos nas
ruas do Lobito, sem recursos, com fraca alimentação, a situação de saúde é
preocupante. As principais doenças que se registam são a tuberculose e o
paludismo devendo ser entendido como uma questão de saúde pública.
Foi assim que em Maio de 2016, a associação OMUNGA decidiu levar a cabo um
inquérito junto dos moradores da feira do Lobito, no bairro do Compão, de forma
a entender sobre a situação de saúde desta comunidade, principais doenças e sua
incidência e também sobre o seu acesso aos serviços de saúde. Esta pesquisa
teve o conhecimento da área social da Administração Municipal do Lobito e da
Delegacia de Saúde. De uma forma geral verificou-se uma elevada taxa de
incidência do paludismo e a maioria dos agregados familiares inquiridos
declarou que já tivera perdido algum membro da sua família por razões de
doença.
Foi esta preocupante situação que levou a OMUNGA a expor os factos junto da
SIC, canal televisivo português, com o propósito de que assim se pudesse ter
conhecimento do que está a acontecer bem como procurar soluções.
Neste âmbito, solicitou através de carta, que a Delegacia de Saúde pudesse
prestar a sua opinião sobre o assunto. O Sr. Américo dos Santos Mateus, em representação do Director da RMSL, declarou que existe um médico para mais do
que 15000 habitantes. Esta escassez de pessoal estende-se para além dos
médicos, como enfermeiros, técnicos de diagnóstico, técnicos de serviços
hospitalares, de acordo a este responsável que esclareceu que "o quadro é
nacional". As declarações passaram na grande reportagem da SIC com o
título "Angola um país rico com 20 milhões de pobres".
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