Lobito,
02/02/2017
Na tarde de 21 de Janeiro, activistas da OMUNGA e membros do Movimento
Revolucionário de Benguela (MR-B), deslocaram-se à zona alta do Curral, na
Catumbela, para tentar ajudar a mediar um conflito que se vem prolongando desde
há algum tempo, com contornos bastante preocupantes. O conflito envolve os
irmãos Manuel Daniel e o Abias Jamba.
Os activistas no terreno
Debaixo de um sol ardente, por caminhos íngremes das montanhas daquele bairro, os jovens da OMUNGA e do MR-B foram animados em resposta a mais um chamado.
Manuel e Abias, os dois irmãos, foram crianças soldados, raptados do
orfanato do Bailundo pelas então forças da UNITA depois de terem sido
abandonados em 1992, conjuntamente com outras cerca de 300 crianças e inúmeros
idosos. Manuel estava no orfanato desde 1980.
Serviram de "carne para canhão" dos dois lados da barricada. Até
hoje não conseguiram ver reconhecido os seus direitos enquanto cidadãos.
Vídeo de arquivo da OMUNGA (2013)
Em Setembro, Manuel Daniel declarou na OMUNGA de que fora informado de que teria sido notificado pelo comandante da 3ª esquadra sem no entanto saber dos motivos. O activista OMUNGA acompanhou-o à 3ª esquadra onde o oficial de dia garantiu não existir qualquer registo de saída de qualquer notificação em nome do Manuel Daniel.
Numa manhã de Outubro, pelas 7 horas, apareceu um motoqueiro nos
escritórios da OMUNGA que informou que o Manuel Daniel teria-o avisado que
estava a ser levado por elementos da "segurança", sem esclarecer que
"segurança".
Em sequência disso, o activista da OMUNGA dirigiu-se à 3ª esquadra para
saber se por acaso o Manel estivesse lá preso e foi aconselhado a contactar os
serviços de investigação criminal. Mais uma vez deparou-se com o facto de que
não havia nenhum registo com aquele nome. Estranhamento aconselharam a se
procurar no bairro já que "existem cidadãos que se fazem passar por
agentes da polícia e prendem as pessoas nos quintais e alguns quartos".
No dia seguinte, Manuel Daniel apareceu novamente nos escritórios da OMUNGA
a declarar que estivera preso no quintal do soba geral, Gervásio Tchitunda.
Disse ainda que fora ameaçado para fazer a entrega de 15 mil Kwanzas ou
voltaria a ser preso.
No encontro do dia 21 de Janeiro, organizado a pedido dos activistas do
MR-B e da OMUNGA, na representação do Soba Geral, Gervásio Tchitunda, estava
presente o adjunto do soba, o secretário do soba, Sr. Isaac que
coincidentemente também é quem responde pelas questões políticas do MPLA no
bairro.
Foi fácil perceber que entre o Abias e o Manuel existem conflitos que se
ligam aos terrenos ocupados, tendo o primeiro, por afinidades partidárias,
recorrido às estruturas locais do MPLA e às autoridades tradicionais que foram
intervindo de forma abusiva e agressiva contra o Manel na aparente intenção de
o fazer abandonar o seu espaço, já que, a equipe pôde verificar que na
residência do Manuel Daniel estava escrito "vende-se", sem ninguém
conseguir apontar o seu autor.
No mesmo encontro, o secretário do soba e do MPLA, Sr. Isaac confirmou o
facto de realmente ter sido emitida uma notificação em Setembro contra Manuel
Daniel, justificando que Abias Jamba teria apresentado uma denúncia em que se
referia a que Manuel teria insultado o Administrador Municipal do Lobito e o
Soba da área.
Os moradores presentes declararam de que Abias Jamba frequentemente recorre
a insultos verbais contra estes cidadãos fazendo referência ao facto dos mesmos
pertencerem à UNITA.
Mediante a mediação dos activistas, o Secretário do Soba concordou em que
os próprios moradores possam intervir em caso de que mais alguma vez se volte a
repetir algum conflito entre os dois irmãos. Manuel e Abias apertaram as mãos e
prometeram pôr fim ao conflito.
Foto de família no final do encontro. No meio, Abias Jamba e a esposa. Em baixo, Manuel Daniel
De acordo ainda a Manuel Daniel, os dois irmãos adquiriram cada um o seu
terreno em 2012 ao falecido soba Paulo Capupa, por 16 mil e oitocentos Kwanzas,
cada. Os terrenos ficam um ao lado do outro.
Segundo as informações, aquela área, sem qualquer plano de urbanização foi atribuída
pelo governo para antigos militares da UNITA que constroem claramente em zonas
de risco, sem qualquer documentação.
Na grande reportagem da SIC de 12 de Janeiro, "Angola, um país seminfância", faz-se referência à situação dramática em que passou e passa
Manuel Daniel.
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