OMUNGA APRESENTA
DECLARAÇÃO NA COMISSÃO AFRICANA
Lobito, 07.11.17
Decorre na Gâmbia, de
1 a 15 de Novembro de 2017, a 61ª Sessão Ordinária da Comissão Africana dos
Direitos Humanos e dos Povos.
A OMUNGA é uma das
organizações que compõem a delegação do Grupo de Trabalho de Monitoria dos
Direitos Humanos.
Durante a sessão, foi
entregue a seguinte declaração:
DECLARAÇÃO
ELEIÇÕES
E AMBIENTE POLÍTICO
Sra. Presidente
Srs Comissários
Srs representantes
dos Estados
Srs representantes
dos organismos internacionais
Srs representantes
das organizações não governamentais
Srs convidados
Minhas senhoras e
meus senhores
A 23 e 26 de Agosto, decorreram
em Angola mais umas eleições gerais. O referido processo embora considerado
livre, transparente e justo pelos observadores internacionais, foi no entanto
alvo de inúmeras críticas e protestos por parte dos partidos da oposição, parte
da sociedade civil e da sociedade em geral.
Tal contestação
prendeu-se essencialmente com a falta de transparência e desrespeito por
pressupostos legais durante o processo, desde o registo eleitoral até à
divulgação e aprovação dos resultados pelo tribunal constitucional.
Por outro lado, o
mesmo foi acompanhado de acontecimentos graves de intolerância política,
durante o processo e após a aprovação dos resultados, como os ocorridos a 26 de
Maio na povoação da Balança, comuna do Cubal do Lumbo, município do Bocoio,
província de Benguela que provocou mais de 3 mil pessoas deslocadas e os
ocorridos a 16 de Setembro, na sede da comuna do Monte Belo, município do
Bocoio. Daqui resultou em 13 feridos, 44 residências atacadas, queimadas e
parcialmente destruídas, para além de centenas de deslocados. Pelo menos duas
senhoras denunciaram que foram ameaçadas de serem queimadas vivas.
As últimas eleições
demonstraram a necessidade de se rever o formato e a constituição da Comissão
Nacional Eleitoral, despartidarizando-a, a necessidade de se criar um Tribunal
Eleitoral e de se priorizar um programa nacional de construção de paz e de respeito
pela diferença.
No entanto, é de se
reconhecer que se verifica uma mudança significativa no discurso do actual presidente,
comparativamente com o do anterior, pela introdução de importantes tópicos tais
como:
1 – Respeito pelos
Direitos Humanos. Tem sido comum a referência a este assunto pelo actual presidente
da Repúbica contrastando com o do anterior presidente que minimizada a
importância dos Direitos Humanos;
2 – Diálogo com a
Sociedade Civil. O actual presidente muito se tem referenciado à importância e ao
respeito pelo papel da sociedade civil e estimula a que seja estabelecido um
diálogo permanente;
3 – Realização das
autarquias. Outro tema que faz parte do discurso do actual presidente dando
assim respaldo ao estabelecido na Constituição de Angola;
4 – Combate à
corrupção. Este é aliás o importante slogan da campanha eleitoral do actual
presidente.
No entanto, embora o
tempo seja curto do exercício do poder pelo acual presidente, na prática ainda
muito há que fazer. Falando de respeito dos Direitos Humanos e do diálogo com a
sociedade civil temos que relembrar que quer durante o período da campanha
eleitoral, quer após a aprovação dos resultados das eleições pelo tribunal
constitucional, circulou nas redes sociais, whatsapp, mensagens agressivas e
desrespeitadoras contra representantes da sociedade civil, incluindo o director
da OMUNGA. As mesmas mensagens impressas, em relação ao director da OMUNGA, foram
coladas em diversas ruas das cidades do Lobito e da Catumbela, na província de
Benguela.
Depois dos conflitos
de intolerância de 16 de Setembro, no Monte Belo, o administrador municipal
adjunto do Bocoio decidiu expulsar a OMUNGA daquele município e publicamente,
perante a população difamou esta associação dizendo que por a mesma receber
dinheiro dos estados unidos andava a inventar factos para denegrir o governo.
Já a nível de combate
à corrupção, a título de exemplo, nem o presidente da República, nem os demais
membros do seu executivo, nem o Procurador-geral da República, nem os Juízes do
Tribunal Supremo e Constitucional e nem os demais governantes ainda
apresentaram as suas declarações de bens, violando assim o prazo estabelecido
na lei.
Não foi ainda
restabelecido o papel de fiscalização da Assembleia Nacional, retirado pela
anterior presidência com a aprovação do Tribunal Constitucional.
Ainda não se verifica
a transmissão em directo das sessões da Assembleia Nacional pelos órgãos de
comunicação social públicos.
Continua-se a
verificar um comportamento prepotente e arrogante por parte dos órgãos
policiais, em que podemos exemplificar com a perseguição dos vendedores
ambulantes, que viola a lei sobre o reconhecimento da actividade comercial, o
assassinato de um moto-taxista em Benguela por um agente da polícia a 4 de
Setembro e a detenção arbitrária e violenta de um trabalhador do porto do
Lobito e membro da comissão de greve daquela empresa, a 15 de Setembro, parecendo
a sua detenção mais com um rapto já que ocorreu sem mandado, na via pública,
por elementos à paisana e levado em viaturas não identificadas e sem qualquer
possibilidade de localização por parte dos familiares e amigos, tendo vindo a
ser libertado apenas muitas horas mais tarde.
É urgente a
despartidarização do aparelho do Estado e a independência do Judiciário.
Por outro lado há que
reconhecer a importância da revogação pelo Tribunal Constitucional do decreto
presidencial que regulamentava a lei das associações e que violava
flagrantemente o direito à associação. No entanto ainda é preciso que o actual
executivo reconheça e promova a constituição dum órgão independente e autónomo
que trate dos Direitos Humanos à luz dos princípios de Paris.
Há ainda que
reconhecer e parabenizar o facto de ter sido eleita uma comissária angolana
para a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos e Angola ter sido
eleita para o Comité dos Direitos Humanos das Nações Unidas. Esperamos que
estes avanços vão conduzir ao fim da violação dos direitos humanos. Por exemplo
corre em julgamento um processo contra 6 cidadãos muçulmanos, detidos a 2 e a 4
de Dezembro de 2016 e acusados a 26 de Abril de 2017 pelo Ministério Público de
terem criado em Angola o “grupo muçulmano radical Street Da Was, formado por
cidadãos angolanos convertidos ao Islão tendo como objectivo a divulgação do islamismo
nas ruas, usando a sígla YSLAMYA ANGOLA.” No entanto, tal como ocorrera com o
conhecido processo dos 15+2, tudo aponta para que também este processo tenha um
cariz político e de perseguição ideológica.
Embora se tenha
reinstalado um ambiente de esperança com a nova liderança do país, a sociedade
civil acredita que muita coisa deve ainda ser feita para repor realmente a
confiança popular. Ainda estamos apenas no momento dos discursos. Precisa-se de
se passar para o momento da sua operacionalização.
A situação da saúde é
preocupante, onde os hospitais não têm medicamentos e nem quaisquer tipo de
condições. Por exemplo a nossa associação acompanhou este ano, 15 óbitos de
moradores de rua, nos hospitais públicos da cidade do Lobito, dos quais 8 por
tuberculose. Os hospitais não têm nem medicação e nem alimentação para estes
doentes, levando a OMUNGA a ter que recorrer ao mercado informal. Neste momento
acompanhamos muitos mais casos deste género que possivelmente vão dar em
óbitos. É necessário que se cumpram os compromissos do Estado angolano no que
se refere à cabimentação orçamental para o sector da saúde.
Sra. Presidente
MUITO
OBRIGADO
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