13/01/2011

O preço da euforia e o resgate dos valores morais


CRÔNICA
 O preço da euforia e o resgate dos valores morais

Viva a independênciaaaaa!...
Viva a liberdadeeeee!...
Viva Angola!...

Gritavam os angolanos, cheios de euforia por causa da independência de 11 de Novembro de 1975!...
Camarada aqui, camarada acolá. Camarada virou moda.
Chefe aqui, chefe acolá. Ser chamado de chefe virou moda.
Por mais que alguém fosse menos qualificado, tinha que ser chamado de chefe.
Quê euforia!...
Todos tornaram-se chefes.
Senhor?... Nem nem pensar!... Esta expressão era do tempo colonial. Comentavam os “analfapolíticos”.
Quem chamasse alguém de senhor, era considerado “contra revolucionário”.
Até quê ponto!...

Rezar?... Nem pensar!... O colono usou a religião para nos dominar. Insinuavam os dogmáticos políticos. A palavra de ordem era “ABAIXO A RELIGIÃO”. Ai de quem não respondesse “ABAIXO”!...
A religião passou a ser considerada “O ÓPIO DO POVO PARA O POVO”. O que na altura tinha valor era o materialismo dialético, importado da Rússia, ex-União Soviética que, hoje, é o que é.
Os padres, os pastores e todos aqueles que se identificassem com Deus eram considerados “personas no gratas” e, como tal, impiedosamente perseguidos.
A partir daí, todos os valores cívicos, morais, culturais, religiosos, ambientais, e humanos perderam-se completamente.
Hoje estamos novamente atrás dos valores que a independência combateu.
Quê pena!...
Aumentou a delinquência na sociedade.
Ninguém respeita ninguém.
A imoralidade tornou-se flagrante.
Os cemitérios são vandalizados.
A violência doméstica atingiu o auge.
Os direitos humanos são violados.
Quase ninguém consegue distinguir o pecado.
O amor ao próximo já não faz parte do angolano.
Já não há antídoto para combater o vírus da intolerância.
Enfim, a sociedade desequilibrou-se completamente.

E agora?
Agora herdamos o temor, a traição, a desconfiança, a insegurança física, o egoísmo, a intolerância, a infidelidade, a violência, a impiedade, a insensibilidade, entre outros valores nocivos.


Então, o que fazer?
Envolver a polícia anti-mutim?
Envolver a polícia anti-terror? 
Formar brigadas especiais para reprimirem os nossos próprios irmãos?
Esta não é a solução porque o regime político de Angola não é ditatorial nem é monárquico. É, sim, democrático.
Muitos culpados do desvio comportamental da sociedade angolana, consideram o diálogo como sendo um acto de submissão, porque são resolutos. Então preferem impôr os seus actos coersivamente, intimidando e ameaçando todo aquele que eventualmente esteja em desacordo.
Abandonemos a prática de intimidação e perseguição entre angolanos.
Tenhamos espírito de irmandade e de solidariedade.
Tracemos juntos e de forma inclusiva os destinos desta nação.
Evitemos fanatismo político que só redunda em violência.
Ponhamos os interesses do eleitorado acima das ambições político-económicas  individuais.
Saibamos que se houver manifestação contra, é porque algo não está bem.
Reconheçamos as nossas limitações e os nossos erros e admitamos que nenhum ser humano é perfeito.
Deixemos o nosso orgulho de lado e sentemo-nos à mesma mesa com todos os actores sociais devidamente organizados. Esses actores têm muito para contribuir.
Trabalhemos unidos para, em conjunto, combatermos as causas dos problemas que enfermam a nossa sociedade e não os efeitos.
Tornemos os órgãos judiciais autónomos  se quisermos combater a corrupção, o tráfico de influência e o abuso de poder.
Pautemos pelas autarquias locais para a democratização efectiva do poder local.
Sejamos verdadeiramente nacionalistas e não arrogantes, agoístas, hipócritas, orgulhosos...
Caminhemos de braços dados com as igrejas, sociedade civil, ONG’s para a recuperação dos valores mais nobres perdidos com a euforia da independência.
Trabalhando  assim, diremos todos em uníssono.
Viva a aindependênciaaaa!....
Viva a liberdadeeeee!...
Viva a democracia!...
Viva Angola!...
                                                          
                                                               


                                                                  Domingos Fingo
                                                             Lubango/Huila/Angola
                                                                       10/12/2010
                                                                                  

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