O passado, presente e futuro de Angola esteve em discussão em mais um Quintas de Debate.
É isso mesmo! O debate aconteceu na Quinta Feira, dia 23 de Agosto, cerca de sete dias para as eleições gerais. O orador é uma figura que entrou para a cena política há pouco mais de quatro meses, depois de quarenta anos na vida militar activa. Falamos do Almirante André Gaspar Mendes de Carvalho, filho do veterano Mendes de Carvalho, co-fundador do Movimento popular de Libertação de Angola (MPLA). Honrou-nos com a sua presença, ao aceitar o convite feito para partilhar, nos habituais espaços de debate, a sua visão sobre o país.
O orador começou por falar sobre o presente do país, focando-se principalmente no processo eleitoral iniciado concretamente em 2011. “ Não existe Presente mais presente que o processo eleitoral, por isso temos de começar ai” disse. Na sua apresentação sobre o presente de Angola falou sobre várias questões que enfermam o país. Criticou o actual regime por promover a corrupção e assaltar o erário público. As pessoas continuam cada vez mais pobres e como se não bastasse, muitas vezes vêem suas casas demolidas com promessas de as serem restituídas em três meses e nada disso acontece. Acusou o regime de enriquecer de forma ilícita uma classe minoritária, enquanto a grande maioria vive em extrema pobreza. Para ele não se está a promover uma verdadeira reconciliação nacional, pois há ainda discriminação e resquícios do passado. Avançou, dizendo o Presidente da República concentra todos os poderes e fez uma Constituição para a sua pessoa e para todos os angolanos, existe essa grande oportunidade para mudar a situação que vivemos no dia 31 de Agosto. Acrescentou que uma vez vencido este regime, os outros membros do partido no poder também vão ser libertados, pois muitos não concorda com o sistema mas não têm coragem de desafiar o presidente da República.
Criticou os órgãos de comunicação social estatais e alguns privados por favorecerem de forma clara o candidato e partido da situação, violando claramente a Constituição da República e outras leis em vigor.
Como candidato a Vice Presidente da República pela Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), criticou a soma reduzida valores monetários que o governo atribuiu aos partidos concorrentes para as eleições, dificultando o trabalho de campanha e mobilização de eleitores para o voto. Disse que se tiver em conta só os gastos para com os delegados de lista para a observação, já atingem os quase oitocentos mil dólares cedidos pelo governo para o processo. Para o Almirante, esta é mais uma manobra engendrada pelo partido no poder, para os outros partidos não tenham sucesso nas eleições e assim perpetuar-se no poder a qualquer custo.
Denunciou ainda a situação dos antigos combatentes e veteranos de guerra. Sobre a questão, disse que é triste ver a situação deplorável de quem um dia lutou para libertar o país. Muitos passaram 10 ou mais anos na vida militar e quando foram desmobilizados e não viram criadas condições que lhes permitisse começar uma vida civil digna. E existe muitos casos de tuberculose nas Forças Armadas por falta de uma alimentação adequada. Na sua opinião isso é altamente inadmissível.
Sobre o passado, fez uma breve viagem aos longínquos anos 70, na altura da independência, até aos nossos dias. Sobre o futuro, acha que o actual estado de coisas pode mudar se forem envolvidos todos os atores na vida social no desenvolvimento do país. É preciso esquecer o passado e construir o futuro. Disse, por último, que a coligação pela qual é candidato a Vice Presidente tem denunciado todas irregularidades que acontecem no processo eleitoral levadas a cabo pela CNE e pelo Governo.
O debate teve treze intervenções, nas quais houve muitas contribuições e também questões dirigidas ao orador.
Durante as intervenções, um participante questionou o motivo do Almirante ter deixado o MPLA, partido tradicional da sua família.
Ao responder a questão, disse que já não podia mais ver tantas irregularidades acontecendo e no país e não fazer nada. Daí procurou Abel Chivukuvuku e revendo-se no projecto da sua coligação, juntou-se a ele. Elogiou o presidente da CASA-CE, dizendo que é um homem honesto, académico e um bom político e que é o homem que o país precisa para ser seu presidente.
O debate aconteceu na Universidade Jean Piaget, Polo de Benguela, depois de muita volta em encontrar um espaço para a realização deste debate.
Estiveram presentes, para o espanto dos organizadores, cerca de trezentas pessoas.