16/08/2014

OMUNGA EM TROCA DE EXPERIÊNCIA EM BUENAVENTURA

Depois de termos chegado ao aeroporto de Buenaventura a caminho do Kilometro 9

De 9 a 12 deste mês estive em Buenaventura, conjuntamente com representantes da Christian Aid (escritórios Dublin e Londres) e de seus parceiros de Angola e Zimbabwe. Fomos acompanhados por elementos da Comissão Eclesiástica Justiça e Paz (Colômbia) e das PBI (Peace Brigades International).

O objectivo desta deslocação foi o de conjuntamente com líderes de comunidades que têm desenvolvido longas lutas para protegerem-se a si e aos seus territórios, discutir estratégias de protecção e de segurança, através de espaços e zonas e refúgios humanitárias, reservas indígenas, campesinas e de biodiversidade.


Todo o pessoal ficou alojado no Espacio Humanitario Puente Nayero que é a primeira experiência do género a nível urbano na Colômbia. Surgiu em Abril deste ano e é constituído por uma comunidade de 280 famílias representando mais de 1000 pessoas.
As crianças davam-nos as boas vindas a Puente Nayero

Buenaventura é constituída por uma grande ilha onde se localiza o mais importante porto da Colômbia por onde passam mais de 60% das importações e exportações do país. A sua população é constituída por 80% de afro descendentes, 15% de indígenas e 5 % de mestiços.

O país está mergulhado em enormes conflitos que envolve as tropas e policiais do governo, 3 facções de guerrilha, grupos para-militares, marginais e narco-traficantes.

As zonas humanitários, com reconhecimento internacional, são espaços de vida exclusivos de população civil geridos pelas comunidades com o propósito de construírem paz e protegerem os seus territórios. Por isso não é permitida a presença de qualquer um dos actores envolvidos no conflito, no interior destes espaços. No entanto, como excepção, o espaço Puente Nayero tem garantia de protecção directa por militares e policiais, em certos pontos, uma vez que sofriam ataques dos para-militares e marginais e, atendendo às relações existentes entre estes grupos e o governo, este foi obrigado a garantir a protecção. O Estado é responsável por garantir a protecção dos seus cidadãos. Existem ainda refúgios humanitários que têm a mesma filosofia mas são apenas utilizados pelas comunidades quando existem confrontos armados nas redondezas dos seus territórios. Servem assim de refúgios temporários.

Durante uma das sessões em Puente Nayero pode-se ver militares ao fundo

Crianças fazem uma demonstração defronte ao que fora uma casa usada pelos para-militares para torturar e assassinar

Acto de reflexão, solidariedade e de protesto em nome das vítimas dos conflitos em Colômbia

Todo este conflito tem por trás os grandes interesses das grandes empresas nacionais e internacionais.

Mapa com a descrição das mega obras e das empresas envolvidas

Após a nossa chegada a Buenaventura, fomos acompanhados a visitar áreas de assentamento de populações desalojadas pelo governo para a construção de infra-estruturas portuárias e uma área de turismo de luxo.

Conforme os depoimentos que fomos ouvindo, milhares de pessoas estão na eminência de serem também assentados em bairros deste género depois de serem desalojados da costa de Buenaventura. Estes bairros ficam a mais de 8 km da zona de origem, distante do mar. as populações viviam essencialmente do mar pelo que serão desenraizados e sem formas de sobrevivência. Muitas destas populações já tinham vindo migrando de territórios ao longo do rio, fugindo do conflito armado, assentando nas regiões marinhas de Buenaventura.

Depois seguimos para o Km 9 que conjuntamente com o km 23 fazem parte de Cali (Buenaventura) onde as comunidades lutam pela legalização dos seus territórios. As terras comunitárias é reconhecido e protegido pela lei mas é desrespeitado na prática. Um mega projecto que envolve a construção de uma estrada. Neste conflito, o governo não reconheceu o direito à terra por estas comunidades e a luta já dura algum tempo.

Membros da comunidade Km 9 que nos aguardavam para falarem dos seus problemas e lutas

Tivemos que nos abrigar da chuva enquanto conversávamos com a comunidade

Depois acampámos em Puente Nayero onde se trabalhou durante alguns dias com representantes de zonas comunitárias de Cacarica e Curvarado, zona reserva campesina Perla Amazonica (Putumayo), reservas campesinas de Naya, Nomam e Trujillo, para além dos líderes do próprio espaço Puente Nayero, dos Km 9 e 23 e da CONPAZ (Construyendo Paz en los Territorios) que envolve 113 comunidades membros.

Tendas onde ficámos alojados

Puente Nayero vive sérias dificuldades como toda a Buenaventura. Tem apenas abastecimento de água canalizada para alguns pontos, uma vez por semana onde a população carta e armazena para usá-la até ao abastecimento seguinte. Não tem quaisquer condições de saneamento e a maioria da população vive na pobreza e desemprego.





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