Depois de termos chegado ao aeroporto de Buenaventura a caminho do Kilometro 9
De 9 a 12 deste mês estive
em Buenaventura, conjuntamente com representantes da Christian Aid (escritórios
Dublin e Londres) e de seus parceiros de Angola e Zimbabwe. Fomos acompanhados
por elementos da Comissão Eclesiástica Justiça e Paz (Colômbia) e das PBI
(Peace Brigades International).
O objectivo desta
deslocação foi o de conjuntamente com líderes de comunidades que têm
desenvolvido longas lutas para protegerem-se a si e aos seus territórios,
discutir estratégias de protecção e de segurança, através de espaços e zonas e
refúgios humanitárias, reservas indígenas, campesinas e de biodiversidade.
Todo o pessoal ficou
alojado no Espacio Humanitario Puente Nayero que é a primeira experiência do
género a nível urbano na Colômbia. Surgiu em Abril deste ano e é constituído
por uma comunidade de 280 famílias representando mais de 1000 pessoas.
As crianças davam-nos as boas vindas a Puente Nayero
Buenaventura é
constituída por uma grande ilha onde se localiza o mais importante porto da
Colômbia por onde passam mais de 60% das importações e exportações do país. A
sua população é constituída por 80% de afro descendentes, 15% de indígenas e 5
% de mestiços.
O país está
mergulhado em enormes conflitos que envolve as tropas e policiais do governo, 3
facções de guerrilha, grupos para-militares, marginais e narco-traficantes.
As zonas
humanitários, com reconhecimento internacional, são espaços de vida exclusivos
de população civil geridos pelas comunidades com o propósito de construírem paz
e protegerem os seus territórios. Por isso não é permitida a presença de
qualquer um dos actores envolvidos no conflito, no interior destes espaços. No
entanto, como excepção, o espaço Puente Nayero tem garantia de protecção
directa por militares e policiais, em certos pontos, uma vez que sofriam
ataques dos para-militares e marginais e, atendendo às relações existentes
entre estes grupos e o governo, este foi obrigado a garantir a protecção. O Estado
é responsável por garantir a protecção dos seus cidadãos. Existem ainda
refúgios humanitários que têm a mesma filosofia mas são apenas utilizados pelas
comunidades quando existem confrontos armados nas redondezas dos seus
territórios. Servem assim de refúgios temporários.
Durante uma das sessões em Puente Nayero pode-se ver militares ao fundo
Crianças fazem uma demonstração defronte ao que fora uma casa usada pelos para-militares para torturar e assassinar
Acto de reflexão, solidariedade e de protesto em nome das vítimas dos conflitos em Colômbia
Todo este conflito
tem por trás os grandes interesses das grandes empresas nacionais e
internacionais.
Mapa com a descrição das mega obras e das empresas envolvidas
Após a nossa chegada
a Buenaventura, fomos acompanhados a visitar áreas de assentamento de
populações desalojadas pelo governo para a construção de infra-estruturas
portuárias e uma área de turismo de luxo.
Conforme os
depoimentos que fomos ouvindo, milhares de pessoas estão na eminência de serem
também assentados em bairros deste género depois de serem desalojados da costa
de Buenaventura. Estes bairros ficam a mais de 8 km da zona de origem, distante
do mar. as populações viviam essencialmente do mar pelo que serão desenraizados
e sem formas de sobrevivência. Muitas destas populações já tinham vindo
migrando de territórios ao longo do rio, fugindo do conflito armado, assentando
nas regiões marinhas de Buenaventura.
Depois seguimos para
o Km 9 que conjuntamente com o km 23 fazem parte de Cali (Buenaventura) onde as
comunidades lutam pela legalização dos seus territórios. As terras comunitárias
é reconhecido e protegido pela lei mas é desrespeitado na prática. Um mega
projecto que envolve a construção de uma estrada. Neste conflito, o governo não
reconheceu o direito à terra por estas comunidades e a luta já dura algum
tempo.
Membros da comunidade Km 9 que nos aguardavam para falarem dos seus problemas e lutas
Tivemos que nos abrigar da chuva enquanto conversávamos com a comunidade
Depois acampámos em
Puente Nayero onde se trabalhou durante alguns dias com representantes de zonas
comunitárias de Cacarica e Curvarado, zona reserva campesina Perla Amazonica
(Putumayo), reservas campesinas de Naya, Nomam e Trujillo, para além dos
líderes do próprio espaço Puente Nayero, dos Km 9 e 23 e da CONPAZ (Construyendo
Paz en los Territorios) que envolve 113 comunidades membros.
Tendas onde ficámos alojados
Puente Nayero vive
sérias dificuldades como toda a Buenaventura. Tem apenas abastecimento de água
canalizada para alguns pontos, uma vez por semana onde a população carta e
armazena para usá-la até ao abastecimento seguinte. Não tem quaisquer condições
de saneamento e a maioria da população vive na pobreza e desemprego.
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