CRISTIANO LUIS é presidente do Núcleo Representativo das Associações do Dombe-Grande e foi um dos prelectores do QUINTAS DE DEBATE de 14 de Maio de 2009, sobre o tema QUE DESENVOLVIMENTO RURAL? Eis o texto na íntegra:
1 - INTRODUÇÃO
a) CARACTERIZAÇÃO ETNO-HISTÓRICO
Do ponto de vista sócio-cultural, o Dombe-grande é uma área tradicional de pastores Helelo representados por uma importante comunidade Ndombe. Actualmente, com cerca de 85000 habitantes, muitos deslocados, a essencial população sedentária é oriunda de todos os cantos do país. Reduzida a 3%, a população nativa Mundombe está confinada fundamentalmente nas povoações do Kangengo e Luacho. Entretanto, mais de 20000 deslocados Ovimbundu penetraram no Luacho até meados de 1999.
Além dos Ovimbundu, de todas origens: Vawambu, Vambokóyo, Vambalandu, Vacinji, Vakakonda, Vakaukembe, Vaciyaka, Vangalagi, Vahanya e Vacilenge, a região tem conhecido a rpesença efectiva dos Lunda/Tchókwwe, Valwimbi, Ambundu, Vanyaneka-Nkhumbi, Vacipungu, Vacilenge-Nkhumbi e Vakwandu cuja prática agrícola destas comunidades acabou por superar a tradicional pastorícia.
b) CARACTERIZAÇÃO SOCIO-ECONÓMICA
A hegemonia da região no processo de tráfico de escravos (primeiro com os nativos e posteriormente com penetração no sertão), a partir de 1836 começou a decair e os europeus e os residentes passaram a um novo contexto social e económico influenciado pela fertilidade das terras em redor da foz do rio Koporolo, ao ponto de se fazer agricultura industrializada já no final do século XIX.
Para além da produção de coconote, algodão, sisal, açúcar, aguardente, mandioca, batata, milho, animais, sal e produtos do mar, a partir de 1896 só o Luacho controlava um importante fabrico de óleo de palma de exportação o que a partir de 1926 levou a administração local a criar uma delegação dos serviços aduaneiros no porto do Kuyu de onde se exportava a produção da companhia açucareira.
Além de inúmeros agricultores particulares europeus que afluíram à localidade, muitos nativos continuaram com as suas actividades tradicionais relacionadas com a criação de gado e o amanho da terra. Com o estabelecimento efectivo da Companhia Açucareira, a vida passou a conhecer radicais mudanças sociais.
Aumentou o nível de exportação de produtos locais. Consequentemente, o êxodo populacional vindo do interior, serviu de mão-de-obra barata.
2 - DESENVOLVIMENTO RURAL
Desenvolvimento Rural (DR) não é mais senão potenciar, estimular, valorizar, preparar, capacitar e proporcionar todas as condições indispensáveis do crescimento multifacético das aldeias, comunas, povoações e bairros.
Estas condições indispensáveis e básicas são, entre outras, a energia e a água potável, a educação e a saúde, a habitação, os bancos, as lojas e os serviços de identificação, os meios de transporte e de trabalho.
Criando estas condições na zona rural, estaremos também a desenvolver de facto (e estancar o êxodo rural) e criaremos condições para o povo (os camponeses) que, durante o período do conflito, acumularam-se nas cidades onde oferecia segurança.
Apetrechando o meio rural, não haverá necessidade da população se concentrar nas áreas urbanas e se calhar podemos montar um processo contrário, o êxodo urbano. Por exemplo, antes de 2000 só se estudava no Dombe-grande até à 8.ª classe e quem tivesse possibilidades iria prosseguir os estudos nas cidades de Benguela ou Lobito. Concluídos os estudos já não regressavam mais. A partir de 2004, com a instalação do ensino médio, verifica-se elevado número de jovens a virem do Lobito, Benguela, Lubango, B.ª Farta, Huambo e outras localidades.
Com a instalação de infra-estruturas adicionais de comunicações (Unitel e Movicel) e agora a reabilitação da estrada Dombe-grande/Benguela, pode ser o início do desenvolvimento.
O meio rural como fonte de matéria prima deverá merecer de todos, as condições que se encontra nas cidades. O que é que motiva o despovoamento das áreas rurais? É a falta de condições básicas. Existe grande discriminação. Os homens pensam que as pessoas que vivem nas cidades são mais importantes em relação aos que vivem no campo.
Mesmo na distribuição das rubricas orçamentais do Estado, vemos que há discriminação. Outra discriminação do meio rural, constata-se na educação, no que toca aos bolseiros para o ensino superior. O Dombe-grande nunca foi contemplado.
O meio rural necessita de água potável e energia para pôr fim às doenças diarreicas, assistir a televisão e ouvir rádio, para se actualizar do que se passa no seu país e mais além.
O meio rural necessita de educação e saúde mais próximo e não na distância de 10 a 60 Km e sem ambulância. O homem do campo precisa de uma boa casa construída pelo Estado ou por ele próprio com financiamento do banco que tem que estar na sua área e não nas cidades onde tem muito movimento de viaturas e muita burocracia e requisitos duros (complexos).
O homem do campo precisa do Ministério da Justiça na sua comuna para tratar da sua cédula e do BI, para adquirir a cidadania.
O homem da comuna, da povoação fica satisfeito quando encontra facilidade do crédito dos inputs para a sua lavoura e meios de transporte para evacuar o seu produto.
O meio rural necessita de ser promovido e estimulado pelo Estado através de organismos afins. Não é favor mas sua obrigação!
O homem do meio rural necessita, enfim, de ser capacitado com novas tecnologias para rentabilizar a sua produção e adaptar às novas exigências do mercado e ser autónomo das suas políticas. Cumprindo com estes pressupostos estaremos efectivamente a fazer a política do Desenvolvimento Rural.
Muito Obrigado
a) CARACTERIZAÇÃO ETNO-HISTÓRICO
Do ponto de vista sócio-cultural, o Dombe-grande é uma área tradicional de pastores Helelo representados por uma importante comunidade Ndombe. Actualmente, com cerca de 85000 habitantes, muitos deslocados, a essencial população sedentária é oriunda de todos os cantos do país. Reduzida a 3%, a população nativa Mundombe está confinada fundamentalmente nas povoações do Kangengo e Luacho. Entretanto, mais de 20000 deslocados Ovimbundu penetraram no Luacho até meados de 1999.
Além dos Ovimbundu, de todas origens: Vawambu, Vambokóyo, Vambalandu, Vacinji, Vakakonda, Vakaukembe, Vaciyaka, Vangalagi, Vahanya e Vacilenge, a região tem conhecido a rpesença efectiva dos Lunda/Tchókwwe, Valwimbi, Ambundu, Vanyaneka-Nkhumbi, Vacipungu, Vacilenge-Nkhumbi e Vakwandu cuja prática agrícola destas comunidades acabou por superar a tradicional pastorícia.
b) CARACTERIZAÇÃO SOCIO-ECONÓMICA
A hegemonia da região no processo de tráfico de escravos (primeiro com os nativos e posteriormente com penetração no sertão), a partir de 1836 começou a decair e os europeus e os residentes passaram a um novo contexto social e económico influenciado pela fertilidade das terras em redor da foz do rio Koporolo, ao ponto de se fazer agricultura industrializada já no final do século XIX.
Para além da produção de coconote, algodão, sisal, açúcar, aguardente, mandioca, batata, milho, animais, sal e produtos do mar, a partir de 1896 só o Luacho controlava um importante fabrico de óleo de palma de exportação o que a partir de 1926 levou a administração local a criar uma delegação dos serviços aduaneiros no porto do Kuyu de onde se exportava a produção da companhia açucareira.
Além de inúmeros agricultores particulares europeus que afluíram à localidade, muitos nativos continuaram com as suas actividades tradicionais relacionadas com a criação de gado e o amanho da terra. Com o estabelecimento efectivo da Companhia Açucareira, a vida passou a conhecer radicais mudanças sociais.
Aumentou o nível de exportação de produtos locais. Consequentemente, o êxodo populacional vindo do interior, serviu de mão-de-obra barata.
2 - DESENVOLVIMENTO RURAL
Desenvolvimento Rural (DR) não é mais senão potenciar, estimular, valorizar, preparar, capacitar e proporcionar todas as condições indispensáveis do crescimento multifacético das aldeias, comunas, povoações e bairros.
Estas condições indispensáveis e básicas são, entre outras, a energia e a água potável, a educação e a saúde, a habitação, os bancos, as lojas e os serviços de identificação, os meios de transporte e de trabalho.
Criando estas condições na zona rural, estaremos também a desenvolver de facto (e estancar o êxodo rural) e criaremos condições para o povo (os camponeses) que, durante o período do conflito, acumularam-se nas cidades onde oferecia segurança.
Apetrechando o meio rural, não haverá necessidade da população se concentrar nas áreas urbanas e se calhar podemos montar um processo contrário, o êxodo urbano. Por exemplo, antes de 2000 só se estudava no Dombe-grande até à 8.ª classe e quem tivesse possibilidades iria prosseguir os estudos nas cidades de Benguela ou Lobito. Concluídos os estudos já não regressavam mais. A partir de 2004, com a instalação do ensino médio, verifica-se elevado número de jovens a virem do Lobito, Benguela, Lubango, B.ª Farta, Huambo e outras localidades.
Com a instalação de infra-estruturas adicionais de comunicações (Unitel e Movicel) e agora a reabilitação da estrada Dombe-grande/Benguela, pode ser o início do desenvolvimento.
O meio rural como fonte de matéria prima deverá merecer de todos, as condições que se encontra nas cidades. O que é que motiva o despovoamento das áreas rurais? É a falta de condições básicas. Existe grande discriminação. Os homens pensam que as pessoas que vivem nas cidades são mais importantes em relação aos que vivem no campo.
Mesmo na distribuição das rubricas orçamentais do Estado, vemos que há discriminação. Outra discriminação do meio rural, constata-se na educação, no que toca aos bolseiros para o ensino superior. O Dombe-grande nunca foi contemplado.
O meio rural necessita de água potável e energia para pôr fim às doenças diarreicas, assistir a televisão e ouvir rádio, para se actualizar do que se passa no seu país e mais além.
O meio rural necessita de educação e saúde mais próximo e não na distância de 10 a 60 Km e sem ambulância. O homem do campo precisa de uma boa casa construída pelo Estado ou por ele próprio com financiamento do banco que tem que estar na sua área e não nas cidades onde tem muito movimento de viaturas e muita burocracia e requisitos duros (complexos).
O homem do campo precisa do Ministério da Justiça na sua comuna para tratar da sua cédula e do BI, para adquirir a cidadania.
O homem da comuna, da povoação fica satisfeito quando encontra facilidade do crédito dos inputs para a sua lavoura e meios de transporte para evacuar o seu produto.
O meio rural necessita de ser promovido e estimulado pelo Estado através de organismos afins. Não é favor mas sua obrigação!
O homem do meio rural necessita, enfim, de ser capacitado com novas tecnologias para rentabilizar a sua produção e adaptar às novas exigências do mercado e ser autónomo das suas políticas. Cumprindo com estes pressupostos estaremos efectivamente a fazer a política do Desenvolvimento Rural.
Muito Obrigado
1 comentário:
Estive a ler o artigo sobre os planos de Extencao Rural. Eu sou eng.agronomo, trabalhei em Africa 15 anos no educacao professional e extencao rural. Gostaria de partilhar as minhas experiencas com Vocés.Trabalhar na Extencao éxige uma grande empatia, experiéncia professional. A minha estrategia sempre foi crar uma unidade entre a formacao dos camponeses - assistencia - organizacao de mercado local. Sempre tém um papel destacado a formacao das camponesas e a introducao dos conhecimentos basicos das technicas melhoradas e adaptaveis nas escolas rurais.
Attenciosamente: Dr. Lajos Bíbor e-mail: lbibor2006@yahoo.com Skype:lbibor1
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