Conforme
lutamos para construir as nossas casas, é conforme vamos lutar para defendê-las,
disse a população.
Reportagem de: Domingos
Mário
Revisão de: José Patrocínio
São mais de 500 casas
com minimamente 7 pessoas por cada, e aproximadamente 300 terrenos em
construção, no bairro Vitula, pertencente à comuna da Praia Bebê, no município
da Catumbela. O Local está dentro de uma área com mais de um milhão e
quinhentos mil metros quadrados (1.500.000 m2 ), e a 400 metros de distância
da beira-mar.
Segundo a população
da área afectada, no dia 17 de Março, apareceram alguns fiscais no bairro, e
marcaram aquelas casas e terrenos com tinta vermelha, e com a palavra “DEMOLIÇÂO”,
o que pôs as pessoas muito preocupadas. Mais tarde apareceu o administrador
daquela comuna, o senhor José Numãla Ecundi, que alegou ter recebido ordens da
administração municipal chefiada pela senhora Filomena Pascoal, para desalojar
o pessoal e demolir aquelas casas em uma semana. A população insatisfeita com o
aviso, marcaram imediatamente uma
reunião com o mesmo, que teve lugar no dia 05 de Abril naquele bairro, com o objectivo de receberem
melhores esclarecimentos.
Na reunião as pessoas
questionaram, porque motivos a administração decidiu desalojar a população, se
aquela área não foi afectada pelas chuvas? Para aonde as pessoas serão
transferidas? Quais são as condições que alberga o local de reassentamento? Como
será a fonte de rendimento das famílias, se a maioria se dedica principalmente
a agricultura e a pesca? Como será a situação escolar das crianças?
Respostas
do administrador
Quando tomou a
palavra, o administrador respondeu que, o objectivo dos desalojamentos e
demolições das casas, é para dar lugar a interesses privados que também não tem
nenhum conhecimento, visto que só recebeu ordens; as famílias desalojadas serão
transferidas para a zona alta, próximo do local de reassentamento das vítimas
das chuvas do dia 11 de Março. Quanto às condições do local, o mesmo ainda não
está preparado visto que é tudo novo, simplesmente encontrarão tendas, de
momento não existem escolas, e nenhum outro serviço, mas com o tempo existirão.
E ainda quando a questão da sustentabilidade das famílias, o mesmo não soube responder, porque não trazia nenhuma informação.
Decisão
final da população.
Depois das respostas
do administrador, a população respondeu com a seguinte questão: se o governo
vem aqui nos desalojar por estarmos a 400 metros da beira do mar, porquê não
vai também nas áreas que estão mais próximas, como na Restinga, Compão, Cabaia,
o palácio do governador etc, onde a maioria das estruturas estão a menos de 10
metros do mar?
O governo cria as
suas políticas, mas não prepara condições para suportarem estas políticas, estamos
a lutar para reduzir a pobreza, mas as pessoas pobres estão ficando cada vez
mais pobres.
As pessoas mais
antigas daquele bairro estão lá há mais de 70 anos, e foi em 2010 que a administração
instalou-se naquela área com o objectivo de melhorar e não piorar as condições
de vida das pessoas, e afinal não sabiam o que estava por trás da governação e
só agora se aperceberam.
Foi com muita luta e
sofrimento que conseguiram adquirir aquelas terras e construir as suas casas, e
muitos para conseguirem realizar o sonho de casa própria, tiveram de passar
tempos e tempos à fome, e muitos ainda já cumpriram penas de prisão, por
defenderem aquele bairro.
Quando viram os
fiscais a pintarem as casas das pessoas, pensaram que seriam transferidos para locais
já equipados, com boas condições de habitabilidade e saneamento básico, mas
depois da resposta do administrador, as pessoas decidiram ficar nas casas que tanto
lutaram para adquiri-las e estão preparadas para o que der e vier.
Salientaram ainda que
enquanto o governo não reunir boas condições de realojamento, não poderão sair,
e se alguma máquina tentar demolir alguma casa terão de matar primeiro os
moradores, só assim poderão destruir as suas casas.
Disseram ainda que
estão preparados para recorrer a outras instâncias como as ONGs, partidos da
oposição, instituições de defesa dos DHs a nível internacional, para lhes
ajudarem a não piorar as suas condições de vida.
A população
questionou ainda, se Angola é um país democrático, porque é que acontecem
injustiças como estas?
O administrador por
sua vez, prometeu levar aquelas opiniões para os seus superiores, para possíveis análises e melhoramentos.
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