06/04/2015

ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL DA CATUMBELA QUER DEMOLIR MAIS DE 500 HABITAÇÕES NA PRAIA BEBÉ


Conforme lutamos para construir as nossas casas, é conforme vamos lutar para defendê-las, disse a população.

Reportagem de: Domingos Mário
Revisão de: José Patrocínio

São mais de 500 casas com minimamente 7 pessoas por cada, e aproximadamente 300 terrenos em construção, no bairro Vitula, pertencente à comuna da Praia Bebê, no município da Catumbela. O Local está dentro de uma área com mais de um milhão e quinhentos mil metros quadrados (1.500.000 m2 ), e a 400 metros de distância da beira-mar.

Segundo a população da área afectada, no dia 17 de Março, apareceram alguns fiscais no bairro, e marcaram aquelas casas e terrenos com tinta vermelha, e com a palavra “DEMOLIÇÂO”, o que pôs as pessoas muito preocupadas. Mais tarde apareceu o administrador daquela comuna, o senhor José Numãla Ecundi, que alegou ter recebido ordens da administração municipal chefiada pela senhora Filomena Pascoal, para desalojar o pessoal e demolir aquelas casas em uma semana. A população insatisfeita com o aviso,  marcaram imediatamente uma reunião com o mesmo, que teve lugar no dia 05 de Abril  naquele bairro, com o objectivo de receberem melhores esclarecimentos.

Na reunião as pessoas questionaram, porque motivos a administração decidiu desalojar a população, se aquela área não foi afectada pelas chuvas? Para aonde as pessoas serão transferidas? Quais são as condições que alberga o local de reassentamento? Como será a fonte de rendimento das famílias, se a maioria se dedica principalmente a agricultura e a pesca? Como será a situação escolar das crianças?


Respostas do administrador

Quando tomou a palavra, o administrador respondeu que, o objectivo dos desalojamentos e demolições das casas, é para dar lugar a interesses privados que também não tem nenhum conhecimento, visto que só recebeu ordens; as famílias desalojadas serão transferidas para a zona alta, próximo do local de reassentamento das vítimas das chuvas do dia 11 de Março. Quanto às condições do local, o mesmo ainda não está preparado visto que é tudo novo, simplesmente encontrarão tendas, de momento não existem escolas, e nenhum outro serviço, mas com o tempo existirão. E ainda quando a questão da sustentabilidade das famílias, o mesmo não soube responder, porque não trazia nenhuma informação.


Decisão final da população.

Depois das respostas do administrador, a população respondeu com a seguinte questão: se o governo vem aqui nos desalojar por estarmos a 400 metros da beira do mar, porquê não vai também nas áreas que estão mais próximas, como na Restinga, Compão, Cabaia, o palácio do governador etc, onde a maioria das estruturas estão a menos de 10 metros do mar?

O governo cria as suas políticas, mas não prepara condições para suportarem estas políticas, estamos a lutar para reduzir a pobreza, mas as pessoas pobres estão ficando cada vez mais pobres.

As pessoas mais antigas daquele bairro estão lá há mais de 70 anos, e foi em 2010 que a administração instalou-se naquela área com o objectivo de melhorar e não piorar as condições de vida das pessoas, e afinal não sabiam o que estava por trás da governação e só agora se aperceberam.

Foi com muita luta e sofrimento que conseguiram adquirir aquelas terras e construir as suas casas, e muitos para conseguirem realizar o sonho de casa própria, tiveram de passar tempos e tempos à fome, e muitos ainda já cumpriram penas de prisão, por defenderem aquele bairro.

Quando viram os fiscais a pintarem as casas das pessoas, pensaram que seriam transferidos para locais já equipados, com boas condições de habitabilidade e saneamento básico, mas depois da resposta do administrador, as pessoas decidiram ficar nas casas que tanto lutaram para adquiri-las e estão preparadas para o que der e vier.

Salientaram ainda que enquanto o governo não reunir boas condições de realojamento, não poderão sair, e se alguma máquina tentar demolir alguma casa terão de matar primeiro os moradores, só assim poderão destruir as suas casas.

Disseram ainda que estão preparados para recorrer a outras instâncias como as ONGs, partidos da oposição, instituições de defesa dos DHs a nível internacional, para lhes ajudarem a não piorar as suas condições de vida.

A população questionou ainda, se Angola é um país democrático, porque é que acontecem injustiças como estas?

O administrador por sua vez, prometeu levar aquelas opiniões para os seus superiores, para possíveis análises e melhoramentos.

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