15/11/2015

DECLARAÇÃO APRESENTADA À COMISSÃO AFRICANA SOBRE A SITUAÇÃO DOS DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS EM ANGOLA


Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos
57ª Sessão Ordinária - Banjul
OMUNGA
DECLARAÇÃO - DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS
Digna Presidente da Comissão Africana
Senhoras e senhores
Em primeiro lugar, não tem havido grandes mudanças em relação ao discurso musculado por parte dos detentores do poder, ou de pessoas ligadas ao mesmo, em relação às organizações nacionais e internacionais de direitos humanos. Como exemplo, muito ligado ao caso da detenção dos 15 jovens em Luanda, da visita a Angola da Euro-deputada Ana Gomes e da Resolução do Parlamento Europeu em relação a Angola, as organizações como AJPD, a OSISA ou a Amnistia Internacional, têm sido transcritas na média, fundamentalmente nos órgãos de comunicação social públicos, como sendo os inimigos do povo e ao serviço dos interesses estrangeiros, num plano de manchar o bom nome e destruir os poderes instituídos em Angola. A declaração do representante do Estado de Angola no início desta sessão testemunha realmente o que aqui transcrevemos.
A definição do novo quadro jurídico referente à intervenção da sociedade civil, em Angola, tem vindo a ser uma via de controlo e limitação do trabalho das organizações de defensores de direitos humanos. O regulamento sobre as ONG, aprovado por decreto presidencial, para além de ser anti-constitucional está impregnado de espírito anti-democrático. Na introdução deste regulamento é salientado como objectivo fundamental do mesmo, o combate ao terrorismo e ao branqueamento de capitais, pressupondo imediatamente como que a sociedade civil seja o potencial terrorista.
O incumprimento por parte do Ministério da Justiça de emitir certificados para as organizações de defensores de direitos humanos, tais como a OMUNGA, a AJPD e a SOS Habitat, estas estão impossibilitadas de fazer movimentações das suas contas bancárias, neste caso no banco de Fomento de Angola (BFA).
Ainda este ano, a título de exemplo e como já foi exposto pela OMUNGA à Comissão Africana, os activistas da SOS Habitat foram alvo de perseguições. A residência do coordenador da OMUNGA foi assaltada por cidadãos armados com armas tipo AKM e vestindo o uniforme das forças armadas angolanas. Ambos casos foram reportados junto dos órgãos competentes, mas não são visíveis quaisquer medidas de protecção como também não existem resultados no que se refere à investigação dos mesmos.
A associação Mpalabanda, de Cabinda, continua proibida mesmo depois de ter sido recomendado a Angola, no mecanismo das Nações Unidas, para que permitisse que esta organização cívica pudesse desenvolver as suas actividades. Os activistas de Cabinda, continuam a ser perseguidos e alvo de processos jurídicos que culminaram com a condenação do Dr. Marcos Mavungo a 6 anos de prisão e aguarda-se ainda o julgamento do advogado Arão Tempo que está impedido de se deslocar daquela parcela territorial.
Sobre Cabinda, não nos podemos esquecer de tantos outros presos políticos detidos em 2007, 2008 e 2010 e condenados a penas de prisão maior que variam entre os 8 e os 24 anos. A OMUNGA teve acesso a informação que aponta para 14 os cidadãos que continuam detidos nestas condições nas cadeias do Yabi e do Bentiaba.
Podemos voltar a lembrar o processo que mantém detidos 15 activistas em Luanda há mais de 4 meses aguardando julgamento para meados deste mês de Novembro. Os prazos de prisão preventiva foram demasiado ultrapassados. De acordo às informações, as condições de detenção não respeitam a dignidade humana, sendo mantidos em celas solitárias com limitado tempo para se beneficiarem do sol, queixam-se de serem vítimas de torturas e tratamentos desumanos bem como são limitados de receber normalmente visitas. As organizações de defensores de direitos humanos e com o estatuto de observadores da comissão africana, ainda não conseguiram autorização para efectuar as necessárias visitas aos detidos. Quando nesta sala, no início da sessão, ouvimos o representante de Angola declarar que em relação ao caso existem provas suficientes, estamos claros que o judiciário só irá cumprir o que a presidência da república já concluiu.
A 15 de Outubro de 2015, o activista Domingos Magno foi detido tendo permanecido preso por 22 dias numa cadeia de alta segurança. Encontra-se em liberdade provisória devendo comparecer no Ministério Público a cada 15 dias até que o processo esteja concluído. O mesmo foi detido quando pretendia assistir à sessão da Assembleia Nacional onde deveria participar o presidente da república para falar sobre o "estado da nação". O activista é acusado de "falsa entidade".
Continuam as detenções de activistas noutras partes do país como ocorreu a 30 de Outubro na cidade do Lobito, onde 18 cidadãos foram presos e foram condenados a 6 de Novembro em julgamento sumário, no tribunal provincial do Lobito, por crime de assuada.
Queremos ainda lembrar o assassinato de Ganga por guardas presidenciais, em Novembro de 2013, e de Cassule e Kamulingue assassinados pelas forças de segurança em 2012 e cujos processos continuam até hoje. Lembrar que destes processos, a OMUNGA teve acesso a informação de que a nossa associação consta de um relatório dos serviços de segurança, conjuntamente com a SOS Habitat, como conspiradoras na produção de "relatórios contra o executivo angolano".
A OMUNGA solicita mais uma vez à Comissão Africana que questione convenientemente a presidência de Angola, sobre os factos aqui transcritos e exija na prática o respeito do papel da sociedade civil e especialmente das organizações de direitos humanos com o estatuto de observadores da comissão africana para que as mesmas possam cumprir com os seus compromissos assumidos perante a comissão africana.


Muito Obrigado

Sem comentários: