Por: Marcolino Moco
Fonte:www.marcolinomoco.com
O tempo é uma Escola Superior gratuita que muitos homens e mulheres não aproveitam, devido a diversas distracções.
Neste momento vemos a História a desfilar diante dos nossos olhos sobre o chão da Líbia. Kadhafi parece determinado a desprezar, até as últimas consequências, as reiteradas lições da História. Triste é que, sem alternativas, o povo líbio é abrigado a empreender um esforço inumano para se libertar das grilhetas da opressão, numa luta sem quartel, que deixa atrás de si a morte e a destruição.
O povo de Angola não desconhece esta história, a de ter que segurar em armas para se libertar. Só que ao desviarmo-nos do caminho da moderação da tolerância e do perdão e ao cultivarmos, como elite política, uma apetência exacerbada pela corrida, sem princípios, às benesses do poder, teremos entrado num círculo vicioso em que tínhamos (acredito que ainda temos) tudo para nos deslindar.
Não vou repetir o que disse, no texto anterior, sobre culpas que atribuo às direcções mais recentes do MPLA, das quais venho divergindo desde há mais de uma década, ao se deixarem envolver, gradualmente, nas teias de um culto à personalidade que não vi, sequer, nos tempos anteriores às mudanças que imprimimos formalmente ao regime, depois da queda do Muro de Berlim. Quem estava de fora pode não concordar comigo mas que isso é verdade, é verdade.
Escrevo estas coisas a ver a História repassar diante dos olhos e, especialmente, a ler e reler o que diversas pessoas, especialmente jovens, escrevem a comentar o meu escrito anterior.
Felicito-me que a maioria esmagadora desses comentadores concorda com a minha posição. Para além da História, a maioria dos aforismos consagrados por diversos povos, constituem o verdadeiro depositário da sabedoria humana: “In médio virtus est” (a virtude encontra-se no meio) ─ diz um brocardo latino. Porém, como era de se esperar, os extremos não deixaram de se exprimir, neste mundo da comunicação virtual que tem a virtualidade de nele não se poder calar a boca a ninguém. Apareceram os que acham que se me dessem um cargo, no agora chamado Executivo, ou me depositassem uns milhões na conta, eu não estaria aqui a “mandar estas incómodas bocas”. Conclusão: na nossa escola, que não é a da História, já formamos gente que, crescida num ambiente de corrida solta às benesses por quem o pode, não acreditará, jamais, que alguém, nesta terra, se interesse pelo bem comum; ou gente que vê em tudo o que é opinião diferente da sua, as palavras de um inimigo sedento do poder e do dinheiro que lhes pertence. Mas, pior do que isso, em certo sentido, embora provavelmente, bem-intencionado, apareceu-me um amigo (no Facebook ou no Club K?) a censurar-me por ele acreditar que em Angola só se deram novos passos sempre que o foi à custa do sangue vertido. Não, caro amigo! Pelo contrário! Sempre que correu sangue perderam-se vidas e as vidas são tão preciosas que são irrepetíveis; e sempre que correu sangue os ódios se multiplicaram e ficamos mais presos aos nossos ódios. Agora é possível sairmos deste círculo vicioso através da palavra e de vários outros mecanismos legais que estão ao nosso alcance. Um dia falaremos desses aspectos mas digo-lhe, desde já, que piores coisas só não aconteceram porque alguns de nós não se calaram a espera de revoluções sangrentas e destruidoras. No que às manifestações diz respeito, penso que antes de nos atiramos para aquelas que são comandadas por entidades sem rosto, cuja localização nem conhecemos, encontremos formas (que as há) para obrigar as autoridades actuais a deixar de fazer uma coisa a que não têm direito: promover e proteger manifestações que lhes são favoráveis ─ como se o Estado angolano fosse sua propriedade privada ─ e proibir manifestações justas de sectores da população ultrajados nos seus direitos e com organizadores identificados.
Pode ser que um dia estas ideias, que felizmente estão a coincidir com as de muitas outras figuras da chamada sociedade civil, já não façam sentido. Mas, isso só acontecerá se aqueles que hoje têm as rédeas do poder, em Angola, deixarem de aproveitar mais estas lições que passam diante de nós, segundo as quais, nas coisas do poder político quem não liberta a sociedade, com transparência e responsabilidade, amarra-se a si próprio ao comboio da hecatombe.
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