Para entender o estado actual de Angola, faço aqui uma analogia entre a economia e a política. Transcrito da internet, a economia ocupa-se da «produção, distribuição e consumo de bens e serviços» visando a satisfação de uma sociedade. A política por sua vez, é «a arte de guiar ou influenciar o modo de governo pela organização de um partido político, pela influência da opinião pública, pela aliciação de eleitores…», (wikipédia). Os políticos são indivíduos que detêm ou almejam o poder com o fim de estabelecer as normas e praticas visando a satisfação da sociedade.
Em economia o produto cinge-se em bens e serviços. Em política, o produto é a credibilidade.
Em economia existem empresas. Em política existem partidos políticos.
Em Economia existem Directores ou Gestores e conselho de Administração. Em política existem Presidentes dos partidos, Comité Politico Permanente ou Bureau Politico.
Em economia usa-se o marketing. Em política usa-se a propaganda.
A actividade económica funciona igual como a actividade político. A economia e a política influenciam-se uma a outra e por sua vez, estas influenciam também todo o sistema sociopolítico de um país. Por norma, quem detém o poder político determina a rumo económico e vice-versa, determinando assim os destinos dos sectores adjacentes como a justiça, a imprensa, a educação, a saúde, a moral e ética, etc., etc.
Quando uma Empresa detém o monopólio de uma certa industria ou conglomerado de indústrias, esta decide tudo por si, deixando a sociedade sem alternativas. Esta empresa não há-de velar pela melhoria do seu produto uma vez que ela vai obtendo lucros e não receia a concorrência. A preocupação constante em manter o controlo total do mercado, constará nas linhas de acção desta empresa. Obviamente, ela tenderá em dificultar a ascensão de outras que visam figurar-se naquela indústria.
A empresa detentora do monopólio não é passível à implementação de leis, regulamentos e práticas funcionais que contrapõem seus interesses. Desde já, não será ela, a empresa monopolista, a proporcionar um ambiente para acomodar as outras, nem tão pouco facilitar a seu declino no controlo exclusivo da indústria.
Toda alteração do quadro dependerá de como as empresas novas ou menos expressivas exercerem suas pressões. Essas empresas desde já precisam do apoio da sociedade de quem terão o suporte fundamental. Para tal, elas têm de dar uma certa garantia à mesma sociedade de que o seu produto tem melhores qualidades, obtendo assim a confiança necessária. Muito embora a sociedade vir a beneficiar-se, a nova empresa só triunfará se for capaz de influencia-la, proporcionando assim as reformas necessárias naquele ramo de indústrias.
Hoje, em tempos modernos, já não existem empresas que dominam por completo uma dada indústria, pois que nesta condição não haveria competitividade, produtividade e progresso. Existem empresas líderes do mercado, que dentro de uma concorrência leal com as demais lançam seus desafios tecnológicos, aumentando a qualidade do produto e consequentemente a satisfação do consumidor. Falar de política é igual.
No contexto Angolano nos deparamos com o MPLA, uma organização que detém o monopólio politico, que lhe posiciona em condições económicas vantajosas, diante de outras organizações cuja soma, multiplicada pelo valor a dobrar, ainda está muito a quem de se equiparar ao primeiro.
Por deter o monopólio político, o MPLA não só o controlo o sistema económico, como também, o jurídico, o informativo, a ordem pública e outros, afectando todo o sistema sociopolítico do país. Não existem portanto, condições jurídico-administrativas que permitam o funcionamento das instituições que possam ajudar a regularização do país.
Como tal, era suposto que todos nós, os intelectuais, soubéssemos que a mudança deste cenário não vai ter lugar dependendo da boa vontade de quem controla o monopólio político. Não será com pedidos de súplica ou com críticas vagas que tal mudará. Não será em forma de uma prenda dada de bandeja, mas sim um acto que tem de ser conquistado.
Cabe, neste caso, aos partidos políticos serem capazes de influenciar a sociedade e dentro do quadro imperante alterar o sistema. Serão os políticos os responsáveis a mudar o estado sociopolítico, devendo esses, elevar a qualidade do seu produto - seu credito perante a sociedade. O absurdo, irracional e ilógico, é pensarmos que o MPLA tem de «fazer a cama» para a oposição acomodar-se. Não será o MPLA a ajeitar a sua própria queda.
Temos a vantagem de sermos um país onde ao menos realizam-se eleições e, é nesta modalidade que o MPLA foi eleito (com fraude ou sem fraude) para governar e assim fará. A única alternativa que existe em mudar o quadro sociopolítico passa por derrotar o MPLA ou ao menos reduzir os seus poderes através da mesma modalidade - o voto.
Não temendo a concorrência, o MPLA não se sente pressionado a mudar ou melhorar a sua forma de governação. Tal como na economia, em política a sociedade consome um certo produto, que ate pode carecer de qualidade, mas por ser o mais aceitável. A marca registada leva preferência sob o produto sem marca, não obstante o produto sem marca poder ser da mesma ou melhor qualidade do que o de marca. O que vale aqui é o marketing, ou melhor a propaganda.
GESTORES vs POLITICOS
Falar de gestores de empresas é igualzinho como falar de (presidentes de partidos) políticos. Os bons são avaliados pela capacidade de superar dificuldades e barreiras impostas pelos factores internos e externos, conseguindo resultados positivos visando os objectivos das suas organizações. Os gestores que não atingem resultados positivos e que caem muito além das expectativas são levadas a renunciar seus cargos. Muitas vezes estes gestores enfrentam obstáculos bem justificáveis, porém, a necessidade de manter uma imagem positiva à organização obriga a tais decisões.
É sabido que um gestor que não consegue obter resultados positivos numa empresa de mil homens tem pouquíssimas chances de o fazer perante uma outra duas ou mais vezes maior. Em princípio, o seu fracasso numa empresa pequena deixará em aberto um estado céptico no tocante à responsabilidades e desafios maiores.
Não se espera que os gestores encontrem todas as condições favoráveis ao desempenho das suas funções e atingir seus fins. Pelo contrário, é a eles que são dadas as responsabilidades de inverter o quadro. Assim eles são considerados bons e abeis por adaptarem-se as circunstâncias complexas e nestas dificuldades serem capazes de arrebatar suas vitórias, conquistando por fim a admiração da sociedade.
A prática demonstra que a única maneira de enfrentar um colosso é aproximar-se a sua grandeza humana, material e psicológica. È assim que muitas organizações, sejam elas empresas ou partidos políticos, ao depararem-se com obstáculos que impedem a sua progressão, como as disparidades em relação quem detém o mercado, optam em associar-se, como forma de criar uma unidade mais expressiva.
Não faltam exemplos que as trocas ou acertamento na linha do produto melhorando a sua qualidade de encontro a satisfação do consumidor (o povo), insere-se no quadro das prioridades das empresas como forma de implantarem-se no mercado. Neste caso o mercado em si ditará o grau de qualidade do produto através da sua aceitação.
Em suma ter uma, ideia mínima sobre a economia nos permite compreender o estado sociopolítico do país. Sendo a economia e a política ciências sociais, elas estão intrinsecamente ligadas, influenciando-se reciprocamente, por sua vez elas influenciam também todos outros sectores da sociedade como o jurídico, informativo, administrativo, formativo, moral e ético, etc.
PAPEL DOS INTELECTUAIS
Respeito todas as afirmações de que sistema sociopolítico actual tem de mudar, ainda assim, deveríamos incidir na verdade, que precisamos de políticos em altura. Angola carece de políticos e de partidos políticos que possam servir de alternativa e ofuscar o MPLA. É ali que me parece que os nossos intelectuais deviam endereçar suas visões.
Os intelectuais têm a mesma função quer na economia como na política. Na economia, onde se apresentam como técnicos e especialistas, aparecem sempre a dar o seu parecer sobre vários aspectos do qual depende o funcionamento de uma empresa. São os engenheiros, economistas, técnicos e vários especialistas que impulsionam as Industrias, o mercado e todo o sistema económico.
Em política, como escrevedores, jornalistas, críticos, sociólogos, juristas e outros, são eles os primeiros a visualizar o quadro sociopolítico, assim, devem ser eles a pressionar directamente os políticos, instigando-os as melhores práticas e estes, dentro do seu quadro, influenciarem a sociedade.
Deve existir o triângulo «intelectuais-politicos-povo», tal como existe o dos «intectuais-empresas-sociedade». Espera-se desta triangulação que os gestores e os políticos devam auscultar os intelectuais, usando dos vários conhecimentos e sabedorias destes para relançar os objectivos, que como empresas ou como partidos políticos, eles pretenderem alcançar, já que ambos visam a satisfação da sociedade.
Ao dirigirem seus pontos, através da imprensa e não directamente aos políticos, os intelectuais fazem-no no vazio, sem atingirem à sociedade. Calculo que o numero de cidadãos que tem acesso as mensagens dos intelectuais não constitui ¼ da sociedade. Transmite-se assim, uma comunicação entre indivíduos da mesma classe, sobre assuntos que ambos são conhecedores, que porém, não depende deles mudar. Desta forma deixa-se os políticos e a sociedade de parte. Sem atingirem os políticos, os intelectuais não atingem a sociedade. Igualmente, sem o apoio ou aceitação dos intelectuais os políticos não atingem nem são aceites pela sociedade.
Muitos apontam alguma culpa à sociedade e ao povo em geral, o que é errado. A sociedade não decide por si o seu destino. Não é assim em nenhum lugar do mundo, nem lá onde o povo é mais educado, logicamente não será assim em Angola.
O que me parece inconsequente, são as constantes aparições de indivíduos de elevado grau de intelectualidade, pessoas sábias e figuras de renomeadas experiências, tentando de formas diferentes descrever o mesmo quadro sociopolítico de Angola. Jornalistas e escrevedores, críticos ou analistas políticos pintam todos os dias as mesmas coisas das quais estamos fartos de saber.
Vimos Pepetela a descrever um quadro do status quo de Angola, o que não constitui novidades para aqueles que tiveram acesso. O triste foi Pepetela não destacar a solução, impingindo-se simplesmente contra quem governa. Será isso suficiente para os Angolanos deixarem de votar no MPLA? De facto seria se de antemão se deslumbrasse uma outra força alternativa.
Todas essas situações que em economia são consideradas vantagens concorrenciais, em política têm o mesmo nome. Cabe aos intelectuais disporem aos políticos as formas como aproveita-las em benefício geral.
As aparições de Petetela, Moco, e outros, para muitos de nós pode significar o inicio do fim do regime, mas a meu ver, em nada afectarão o curso do estado sociopolítico de Angola. São pessoas que serviram o regime e sentem-se injustiçados pelo próprio regime que eles serviram. Logicamente, estes tipos não se juntariam às outras forças para mudar o status quo de Angola, nem mesmo dentro do MPLA, pior a nível da oposição.
O contexto sociopolítico de Angola é integral, abrangendo todos os sectores do país. Não podemos discutir e procurar solução para um problema social separadamente sem partirmos da raiz, - o estado sociopolítico do País.
Bernardo Sousa Santos 213 Camelia Ave
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