10/03/2015

ADVOGADO EM LITÍGIO DE TERRAS COM CAMPONESES NO LUONGO


38 pessoas totalmente dependentes daquelas lavras estão a perder o único sustento das suas famílias por causa dos interesses individuais, há pessoas que cultivam no local há mais de 45 anos. Segundo o senhor Xavier Tchivembe, sem serem avisados, em Novembro de 2014 quando exercia os seus trabalhos na sua lavra, assistiu chinese a entrarem no local e quando foi perguntar aos mesmos o que se passava, eles simplesmente responderam para o senhor não fazer nada, pois o chefe Angolano “irá dar dinheiro”. Exaltou-se então e queria cortar os chineses com a catana que estava em sua posse no momento, mas as outras mais velhas acalmaram-no. Horas depois, apareceu um senhor com o nome de Pedro e exerce o cargo de advogado,  e disse aos 38 camponeses afectados, para não fazerem confusão, porque ele não é o culpado visto que as pessoas que lhe venderam aquelas terras é que tinham de avisar aos camponeses. E prometeu aos camponeses, indemnizá-los segundo a quantidade e qualidade dos produtos que cada um possuía em sua lavra, e no mesmo dia, pôs os chineses a vedarem o local com chapas.

Quando questionaram ao advogado quem lhe tinha vendido as terras, ele simplesmente respondeu que apenas comprou,  sem identificar a pessoa que lhe cedeu as terras. Os camponeses dirigiram-se até a cooperativa agrícola da Catumbela, mas estes por sua vez, também não quiseram prestar nenhuma informação, simplesmente responderam que  que só lhes puseram lá para controlar o local. 


Os camponeses ainda disseram ao senhor Pedro que alega ser o suposto dono, que aquelas lavras são lavras de família, e os mesmo estão lá há muito tempo, os seus bisavós, avós e pais, cultivaram naquele local, mas este por sua vez respondeu aos coitados camponeses que não queria saber a quem pertence e muito menos se algum dia algum camponês legalizou a sua terra porque simplesmente comprou. 

Em Fevereiro de 2015, o senhor Pedro, apareceu no local  com os chineses e levaram o senhor Geraldo (responsável pelo talhão) e o senhor Xavier Tchivembe para a cooperativa agrícola da Catumbela, onde reuniram com os funcionários daquela instituição, informando aos senhores da agricultura que não iria conseguir indemnizar todas as 38 pessoas porque seria da competência deles informarem e indemnizarem os camponeses, e obrigou aos homens da agricultura a pagarem uma parte. Segundo o senhor Xavier, na reunião, o senhor Pedro  ia para o canto a toda hora conversar com os homens da agricultura.

Depois da reunião, voltaram para o local, e o senhor Pedro ordenou ao chinês que pegasse no dinheiro e indemnizou cada pessoa na seguinte escala: o senhor Xavier recebeu 70.000 kwanzas, o senhor Geraldo 60.000, 40.000, 36, 31, mas na sua maioria (29 camponeses) receberam de 4 a 18.000 kwanzas.

Pela enorme quantidade de produtos contidos nas lavras, no momento depois da indemnização, o senhor Pedro, prometeu  aos 38 camponeses, não destruir as plantações até que tudo fique pronto e os camponeses recolherem.

No dia seguinte, o senhor Xavier, foi informado que o senhor Pedro não cumpriu com a promessa feita aos camponeses e mandou as máquinas avançarem com as obras, e foi rapidamente para o local, e encontrou que já haviam destruído a segunda parte de todo o terreno,  sem atingirem o seu. Naquele momento disse ele, que perdeu a cabeça e começou a espancar todos que lá estavam, incluíndo o representante do senhor Pedro e os seguranças, e foi levado pelas forças policiais e depois encaminhado pela procuradoria, mas com a ajuda dos Sobas e da população camponesa, foi solto.


As senhoras que as suas lavras já foram destruídas e como já não têm mais forças para lutar, preferiram armazenar o resto dos seus produtos (Batata doce, mandioca, cana-de-açúcar, etc), em suas casas, que agora está a se estragar  e a secar por não terem quem as compre. Tentaram ainda vender as canas no valor de cinco kwanzas, mas já não estão a comprar tendo em conta o estado que os produtos se encontram.


Uma das senhoras está com a mãe em casa sem a possibilidade de se mexer e nem de falar, está com a sobrinha muito doente, e diz que a sua lavra era a única forma de sobrevivência, pois já não tem mais quem as ajude.

Velhas idosas sem força para lutar, e sem dinheiro para sobreviverem estão envolvidas neste problema e choram dia e noite que não lhes sejam retiradas as suas lavras, porque apesar do tempo em que lá cultivam e por ser o único sustento, aquelas lavras também já fazem parte das suas famílias.

Texto e imagens de Domingos Mário
Revisão de José Patrocínio



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