São Paulo, 24
de agosto de 2015
Excelentíssimo
Senhor
Conselheiro Pedro Marcos de Castro
Saldanha
Divisão de Direitos Humanos – MRE
Ref. – Pedido de manifestação do governo brasileiro contra prisão de ativistas
de direitos humanos em Angola
Conectas
Direitos Humanos, Omunga-Associação da Sociedade Civil Angolana e Associação
Justiça Paz e Democracia (AJPD), vêm por meio desta expressar sua preocupação pelas
detenções que vêm ocorrendo em Angola desde o dia 20 de junho, quando um grupo
de 15 jovens ativistas e defensores de direitos humanos foram presos na capital
angolana. De acordo com os relatos de entidades de direitos humanos locais,
corroborados por notícias na imprensa angolana e internacional, a operação
policial que resultou na prisão do grupo de ativistas aconteceu sem mandado de
prisão ou de busca.
Ao mesmo
tempo, e como narram os jornais locais angolanos como efeito colateral das
primeiras detenções[1],
no dia 30 de junho foi detido no local de trabalho, sem pedido de prisão, o
capitão Zenóbio Lázaro Muhondo Zumba. Ele é suspeito de ter ligação com um dos
detidos no dia 20 de junho.
Causa preocupação também o fato de que,
em manifestação contra a prisão do grupo, sete ativistas foram detidos[2],
embora tenham sido postos em liberdade. Ademais mães, mulheres, irmãs e irmãos
dos ativistas têm sido impedidos de realizar manifestações em favor da
libertação dos seus familiares e sofreram violência física de policiais
angolanos durante uma manifestação[3].
Organizações angolanas de direitos humanos
denunciam que, desde 2011, existe uma prática recorrente do governo angolano de
impedir o livre exercício do direito de manifestação. Contudo, o direito à
liberdade de expressão e à reunião pacífica estão consagrados e protegidos pelo
Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos[4], assim como na Carta Africana dos
Direitos Humanos e dos Povos[5],, compromissos internacionais aos quais
Angola é Estado-parte. Além disso, lembramos que o artigo 47.º n.º 1 da
Constituição angolana ecoa esses compromissos e declara expressamente: “É
garantida a todos os cidadãos a liberdade de reunião e de manifestação pacífica
e sem armas, sem necessidade de qualquer autorização e nos termos da lei”[6].
Diante desta situação e levando em conta a relação estratégica que o
Brasil mantém com este país africano e o protagonismo que o governo brasileiro
busca na esfera global, instamos ao governo brasileiro a se posicionar contra a
detenção dos ativistas presos.
Além disso, acompanhamos
atentamente os dois ciclos de Revisão Periódica Universal (RPU) de Angola
perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU e vimos o papel fundamental
desempenhado pelo Brasil na proposição de recomendações ao país africano.
Durante o 1º
Ciclo da Revisão Periódica Universal (UPR), em 2009, Angola recebeu 166
recomendações de 53 países. O Brasil fez
cinco recomendações referentes ao fortalecimento do poder judiciário; ao
reforço de políticas públicas para garantir os direitos das crianças; à
ratificação do ICERD, CRPD, CAT, dos Protocolos Facultativos PIDCP OP-2, a CAT
e CRPD, do Estatuto de Roma, do Protocolo de Palermo e da Convenção para a
Prevenção e Punição do Crime de Genocídio; à extensão de um convite permanente
para os procedimentos especiais da ONU; e, finalmente, ao cumprimento das metas
de direitos humanos estabelecidos na resolução 9-12 do Conselho de Direitos
Humanos.
No dia 30 de
outubro de 2014, durante o 2º Ciclo da RPU, Angola recebeu 226 recomendações de
101 países. O Brasil teve uma nova oportunidade de contribuir para a revisão do
país e fez duas recomendações referentes à continuação do processo de adesão
aos instrumentos internacionais de direitos humanos, em particular a ratificação
do CAT e OP-CAT e ICERD; e ao aprofundamento dos esforços para fortalecer o
poder judiciário, como a criação de uma comissão para a reforma do Legislativo
e do Judiciário.
Acreditamos
que as recomendações feitas pelo Brasil, se colocadas em prática, podem
favorecer a melhoria do ambiente de garantia de direitos em Angola.
Solicitamos, portanto, que o estado brasileiro renove esforços para pressionar
e apoiar o país africano a cumprir com esses ajustes institucionais.
Esperamos que
o governo brasileiro exercite sua influência de forma positiva sobre Angola e
evite retrocessos no exercício e proteção de direitos em um país de importância
estratégica para o Brasil e para o continente africano.
No aguardo
dessa ação, despedimo-nos com saudações cordiais.
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Conectas
Direitos Humanos
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Omunga-Associação
da Sociedade Civil Angolana
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Associação
Justiça Paz e Democracia (AJPD)
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[2] Algumas das notícias disponíveis: http://www.dw.com/pt/libertados-ativistas-detidos-na-manifesta%C3%A7%C3%A3o-de-luanda/a-18619322 ; http://www.portugues.rfi.fr/angola/20150729-activistas-em-angola-tentam-manifestacao-pacifica-contra-abusos-e-prisoes-arbitraria ; http://www.dw.com/pt/intensifica-se-pol%C3%ADtica-repressiva-contra-suspeitos-de-dissid%C3%AAncia-pol%C3%ADtica-em-angola/a-18611289 (acesso
em agosto de 2015)
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