As chuvas de 11 de Março no Lobito
Hoje, 11
de Agosto de 2015, por volta das 12 horas, uma equipe com membros do CRB, OHI e
OMUNGA estiveram no terreno para avaliar a situação das vítimas das chuvas que
se encontram, alguns, em tendas há mais de 4 meses.
A equipe das organizações na visita de hoje
No
acampamento falámos com os cidadãos que nos falaram das dificuldades que estão
a viver. Neste momento continuam a ter energia eléctrica produzida por um
gerador, sem grandes problemas, durante o período nocturno, através de postes
de iluminação pública. A água continua a ser abastecida dentro de horários. O
posto de saúde continua a funcionar mas os moradores informaram que muitas
vezes o mesmo não tem os medicamentos necessários. O apoio alimentar continua,
sem uma definição per capita, sendo distribuído as mesmas quantidades por
família (tendas) independentemente do tamanho do agregado familiar. Outro grave
problema que enfrentam tem a ver com os transportes. Inicialmente havia um
autocarro privado que vinha de manhã e cobrava 100 Kz até à cidade. Depois, sem
qualquer esclarecimento, o mesmo autocarro deixou de funcionar e começou a
aparecer um hiace que cobra para o mesmo percurso, 200 Kz. De regresso, o valor
já é de 300 Kz, uma vez que têm que apanhar os motoqueiros.
Um dos
nossos interlocutores, que morava na Catumbela na altura de perder a sua casa,
trabalha como segurança em Benguela, pelo que os gastos com transporte
tornam-se insuportáveis.
Uma das vítimas inconformadas com a decisão de serem obrigados a terem que construir as suas novas habitações
Outro
grave problema com custos de transporte tem a ver com os estudantes. A escola
improvisada no local tem funcionado normalmente mas apenas lecciona até à 6ª
classe. Todos os demais têm que deslocar os muitos quilómetros até à cidade se
querem continuar a estudar.
Embora se
denote cansaço em relação às condições em que estão ainda a viver, demonstram
fundamentalmente tristeza e sentem-se enganados pelo facto de afinal não lhes
ser garantidas novas residências. Ao contrário do que esperavam, ser-lhes-á
apenas dado as bases para a construção das casas, o título do terreno e terão
que ser estes cidadãos a construir as suas casas. Conforme ouvimos, também
apenas foram distribuídas algumas bases, a cidadãos do Lobito, não tendo ainda
sido todos beneficiários. Ao mesmo tempo foi-lhes garantido o material de
construção mas não deram prazos.
Um dos
nossos interlocutores informou que no dia da entrega, alguns autocarros recolheram
todos os moradores e levaram-no ao local onde está a ser criadas as condições
para a construção definitiva das residências. Nessa altura, o governador
provincial, Isaac dos Anjos terá informado que quem não conseguir construir a
sua casa de acordo ao modelo será obrigado a ter que procurar outro local para
residir.
As referidas bases sobre as quais os cidadãos vítimas das chuvas terão que construir as suas novas residências
Contactado
o Sr. Jamba, responsável do acampamento pela Administração Municipal do Lobito,
este garantiu que todos serão beneficiados. Quando o questionámos que tipo de
documento que os cidadãos estão a receber, ele referiu-se ao documento que
autoriza o uso da superfície e de construção. Já não sabe se serão depois os
cidadãos que terão que pagar pela documentação de legalização das habitações.
O local
onde está a ser definida a nova urbanização fica a muitos quilómetros de
distância o que virá a se tornar um enorme problema de acesso. Os cidadãos
queixam-se também da sua falta de condições para poderem construir mesmo que
lhes seja dado o material, tomando em conta o desenho modelo das casas a
construir e da sua falta de recursos.
A equipe
deslocou-se a esse local e pôde na realidade ver que são já muitas bases que
estão construídas para as futuras residências. Viu ainda que, mas não entendeu,
algumas residências já se encontram em fase de construção. Ficou a pergunta,
quem já está a construir e para quem serão estas residências?
Uma das residências já quase concluida mas que não se sabe para quem será
Para além
da distância, ficaram ainda outras perguntas como a questão da educação, saúde,
segurança, abastecimento de água e saneamento. No terreno foi visível que estão
a colocar nas vias, troncos que possivelmente serão postes de iluminação
pública.
No terreno
já existiam alguns barracos de pessoas que aparentemente sobrevivem do carvão.
Estes também receberam documentos para terem acesso a bases e terreno e deverão
destruir aos seus "casebres" e terão também que fazer parte do
processo. Mais uma pergunta se levanta, onde e como vão viver estas pessoas
enquanto existir o processo de construção? Lembramos que um dos enormes
problemas encontrados na altura da instalação das vítimas no campo de
assentamento se relacionava com a inexistência de tendas.
A equipa
decidiu não continuar o seu trabalho de terreno porque era visível que havia
uma delegação (não sabemos de quem e com que objectivo), pela quantidade de
viaturas e, em particular, da polícia nacional. Outro aspecto que realçou à
equipe, é a existência de uma bandeira do partido MPLA que sobressai ter sido
colocada ali há relativamente pouco tempo.
A residência modela e as viaturas da delegação que encontrámos no terreno
Os
cidadãos vítimas desta calamidade natural e vítimas de outras calamidades
humanas, como nos desabafou um dos nossos interlocutores que sofreu a guerra de
93 no Huambo e que teve que abandonar tudo e deslocar-se a pé em direcção a
Benguela, consideram que o Estado de Angola continua a tratá-los desumanamente.
Devemos
todos nos lembrar que em breve começa o tempo das chuvas e já sabemos como isso
vai impossibilitar a construção e as conduções desumanas a que vão estar
sujeitos estes cidadão continuando nas tendas. Os mesmos questionam:
"Tantos condomínios construídos e abandonados quer no Lobito como na Catumbela,
porque terão que continuar a sofrer se afinal Angola é de todos?!
Imagem que demonstra a situação em que fica o campo de assentamento provisório durante as últimas chuvas
Fotos e vídeo de Domingos Mário
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