13/10/2015

ACTIVISTA ESCREVE AO PAPA FRANCISCO PELA LIBERDADE DOS PRESOS POLÍTICOS


À
SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO
V A T I C A N O

Assunto: CARTA ABERTA SOBRE DIREITO À VIDA EM ANGOLA

SANTO PADRE

João Malavindele Manuel, filho de Huilo Manuel e de Julieta Malavindele, de nacionalidade angolana, nascido em Lobito, Província de Benguela, activista de direitos humanos pela associação Omunga com sede no Lobito província de Benguela. Sou católico como Vossa Santidade, por este facto, julgo escrever-vos, como a um irmão na fé.

Eis do que se trata: No dia 20 de Junho de 2015  foram detidos 15 jovens activistas, na sequência do cumprimento de um mandato de revista, busca e apreensões que o Serviço de Investigação Criminal (SIC) realizava no bairro da Vila Alice, distrito urbano do Rangel. Vossa Santidade, na altura da detenção o Ministério Público alegou tratar-se “de actos preparatórios que poderiam levar à destituição do Governo legitimamente constituído, a partir das eleições de 2012”.

Santo Padre, os jovens activistas na verdade estavam a ler e analisar um livro com o titulo “Da Ditadura à Democracia” cujo autor é o Dr. GENE SHARP, que serviu de espiração para os jovens contextualizarem o desenvolvimento e o estado actual da democracia em Angola o que não constitui crime nenhum de acordo com a nossa constituição e outros instrumentos internacionais ractificados por Angola.

Neste momento, os jovens que na sua maioria são estudantes encontram-se encarcerados há mais de 100 dias cumprindo assim, os prazos de prisão preventiva de acordo com a lei vigente no país. Por outro lado, os activistas enfrentam grandes dificuldades em diferentes cadeias de Luanda, com realce a problmas de saúde carecendo de atendimentos especifico. Vossa Santidade, o mais grave é que muitos são proíbidos de receber visitas com excepção aos pais, irmãos e esposas.

Vossa Santidade, os jovens activistas detidos inconformados com a injustiça que lhes está a ser imposta decretaram uma greve de fome que dura 19 dias, onde os 14 activistas aguentaram até 10 dias apróximadamente enquanto que o activista Luaty Beirão continuou com a greve perfazendo neste momento 19 dias sem alimentar-se e os seus orgãos encontram-se em estado de falência e de acordo com as suas convicções o jovem activista está disposto a morrer. Vossa Santidade, é preocupante a letargia das entidades angolanas no que concerne à protecção do bem vida, neste contexto o país e o mundo está sujeito a perder um ou mais jovens aos olhos dos homens. Foi neste espírito de salvar o bem vida que várias individualidades angolanas em solidariedade aos activistas do processo denominado 15 + 1 em particular o activista Luaty Beirão que a sua saúde está num estado crítico encontram-se desde o dia 8 do corrente mês de fronte a Igreja Sagrada Família Luanda em Vigilia clamando pela vida dos activistas e consequentemente a libertação imediata. Vossa Santidade ontem 11 de Outubro de 15, terceiro dia de Vigília, a Igreja Sagrada Família foi cercada com um dispositivo policial forte enquanto decorria a Vigília. O objectivo foi acabar com a mesma porque eles traziam a informação de que a mesma não estava autorizada. Pacificamente os cidadãos tiveram que se dispersar no sentido de evitar o pior.

Mas muitas coisas me ocorrem na cabeça, em muitos casos sem palavras para descrever a tamanha crueldade para com os activistas.

Santo Padre parece me, que há aqui uma intenção de fazer calar os activistas com a encomenda de mortes silenciosos. Sendo assim desumano e contrário aos princípios e doutrina cristã, até porque o Estado angolano é predominantemente aos valores do cristianismo.

Santo Padre sei que a igreja sempre evitou posições percipitadas, preferindo sempre com factos e evidencias reais e por sua vez respeitando o principio da laicidade dos Estados. Também é sabido que a igreja a pós a II guerra mundial sempre distingue-se por uma moderação extrema.

Santo Padre em nome do povo angolano e de todas as injustiças que os mesmos enfrentam no dia a dia em particular aos Jovens detidos, orai por nós Santo Padre, porque os próximos dias serão difíceis.

Tenho a honra de professar-me com o mais profundo respeito. Criado mais obediente e humilde da Vossa Santidade.

Luanda aos 12 de Outubro de 2015
Autor
João Malavindele Manuel







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