POLÍCIA PROTEGE OS
TRATORES CONTRA AS COMUNIDADES DO CUROCA
A situação de
conflitos de terras surgido no município do Curoca pela imposição do projecto
agro-industrial “Horizonte 2020” continua a crescer de intensidade levando as
populações autótones a desafiar a morte.
De 9 a 11 de Agosto,
membros da ACC e da OMUNGA, representando o GTMDH, conjuntamente com
representante da OHI e o apoio da OSISA e da Diocese de Ondjiva, estiveram na
província do Cunene para desenvolverem algumas actividades no sentido de, por
um lado, monitorar o processo de negociações e por outro, estabelecer o debate
e o diálogo construtivo e pacífico.
Numa província com
alguma resistência à aceitação da diferença e pré-disposta à discussão de
ideias, os representantes do GTMDH e demais membros da comitiva começaram por
sentir alguma ameaça. A título de exemplo, o Padre Pio Wacussanga recebeu
vários contactos no sentido de persuadir a delegação a não realizar as
referidas actividades, nomeadamente o encontro com as comunidades no Curoca e o
Quintas de Debate em Ondjiva. Essa persuasão pressupunha a ameaça de prisão
caso se insistisse a realização das actividades programadas.
As comunidades também
foram ameaçadas, conforme confirmaram durante o encontro geral de 10 de Agosto.
Esclareceram de que foram alvo de pressão para que não realizassem o referido
encontro sob pena de os lídeveres poderem vir a serem presos, por não haver “autorização”
do administrador do Curoca para a realização de tal encontro.
Outro tipo de pressão
também foi desenvolvido. Coincidentemente e um dia antes da realização do
Quintas de Debate, o padre da Diocese de Ondjiva fora contactado pela
Administração do Kwanhama a desconfirmar a disponibilidade da sala,
argumentando que a mesma “afinal” estava ocupada para a data prevista.
Ainda na véspera do
Quintas de Debate, o mesmo padre foi convocado para ter encontros com os dois
vice governadores, em separado, que duraram cerca de duas horas cada. Os mesmso
serviram para o mesmo propósito, pressionar no sentido de que as referidas
actividades fossem anuladas sob a ameaça de se vir a poder intervir
coersivamente.
Felizmente, perante a
insistência da delegação e o apoio inestimável da Diocese de Ondjiva, todas as
actividades foram realizadas com sucesso, tendo-se alterado o lugar para a
realização do Quintas de Debate que aconteceu no Hotel Águia Verde. Para além
de tudo ter desenrolado sem outros sobressaltos, o interessante é que membros
do governo da província participaram no próprio debate, tais como o representante
do Comandante Provincial da Polícia e o responsável da Comissão criada pelo
Governo provincial para acompanhar o processo do Curoca.
Como se isso não
bastasse, o próprio Vice-governador provincial soliciou um encontro com os
membros da comitiva que decorreu nas instalações do governo provincial do
Cunene, no período da tarde de 11 de Agosto, antes da delegação regressar ao
Luango. Por este gesto, os membros da delegação em nome do GTMDH agradecem.
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“AFINAL NÃO HÁ LEI”, DIZEM AS COMUNIDADES DO CUNENE QUE RESISTEMÀ INVASÃO DAS SUAS TERRAS
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O Quintas de Debate
que decorreu com o tema “O USO CONSUETUDINÁRIO DAS TERRAS PELAS COMUNIDADES E OS IMPACTOS PELA SUA
ALIENAÇÃO COERSIVA EM ANGOLA” teve como principal orador o Director Executivo
da ACC, Domingos Fingo.
Durante o debate, representantes das comundades alvo
das expropriações de terras, poderam apresentar os seus testemunhos, as suas
preocupações e as suas intensões.
Foi assim que explicaram que realmente, já antes
deste novo projecto ter surgido, teria surgido um outro, aparentemente com as
mesmas intensões, de ajudar a população local no combate à fome. Foi assim que,
movidos por tais intensões, as comunidades disponibilizaram uma parcela de
terra, a um senhor chamado Neves, à espera que fosse assim criada uma “lavra
comunitária” para que as comunidades sustentassem-se a partir de lá. Foi assim
que em vez de um projecto comunitário, foi colocado arame e tornou-se numa
fazenda privada do Neves.
Agora surge o novo projecto denominado Horizonte
2020, com iguais intensões, de ajudar o povo. A população aceitou e então
indicou que o referido projecto ocupasse a área anteriormente disponibilizada e
ocupada pelo Sr. Neves. Foram surpreendidos pelo facto de que argumentaram de
que aquele terreno é “alheio” e o “homem que pode vender esse lugar, ele está a
vender muito caro e a comunidade apercebeu-se que esse lugar já estava vendido”!
Foi-lhes apresentados
os limites que ocuparia o novo projecto e os “limites esgotou todo o perímetro
do Curoca até chegaram no perímetro da Kahama.” As comunidades decidiram então
não aceitar.
Infelizmente não
sentiram diálogo e nem compreensão e os tratores começaram a trabalhar. As comunidades
entenderam, quando viram as máquinas a trabalhar, que o projecto não era para
garantir segurança ao povo mas era para os “matar”. Por isso “não têm nenhuma
alternativa e vão pegar nas catanas e só depois, se morrerem, o projecto pode avançar”.
Realmente o clima é
assustador, no entanto pareceu haver realmente intensões do Governo provincial
do Cunene enveredar por um processo negocial e não haver imposições sobre as
comunidades. Foi assim decidido de que devem ser respeitados os limites
definidos a 25 de Julho, aquando do encontro das comunidades com os
representantes da Casa Civil da Presidência da República e em conjunto
definirem tais limites no terreno.
Texto
de José Patrocínio
Fotografia
e vídeo de Domingos Mário
Lobito,
17/08/2016
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