Edson Rafael Ngonga "raptado" a 22 de Novembro por agentes da policia
DECLARAÇÃO PÚBLICA
ANGOLA NÃO ESTÁ EM PAZ
- CIDADÃOS “RAPTADOS” POR AGENTES DA POLÍCIA
A 4 de Dezembro de 14, a OMUNGA recebeu um email do cidadão
que se dá pelo nome de Martinho Patrício
Ngonga a expor o “desespero da
família” em relação à possibilidade do seu familiar, conjuntamente com dois
amigos, terem sido raptados e consequentemente tivessem tido “o destino que outros ativistas como Cassule
e Kamulingue tiveram”.
De acordo ao documento em anexo ao referido email, com o título
“DESESPERO NA FAMÍLIA – DESAPARECIMENTO DE
UM JOVEM”, o Martinho Ngonga esclarecia que “desde as primeiras horas do dia 22 de Novembro de 014”, o seu primo
“Edson Rafael Ngonga, de 27 anos de
idade, residente e natural de Luanda” estaria desaparecido depois de “serem interpelados por 2 oficiais da Polícia
Nacional, que por fim, acabaram por obrigar os jovens a acompanhá-los”
Os jovens saíam “de uma
festa no bairro do kaputo (congolenses)” quando os factos aconteceram e tinham
previsões de irem a uma outra festa.
Ainda de acordo às informações, o grupo inicialmente era
constituído por 4 elementos, tendo ficado um, que testemunhou a acção policial
já “que na altura tinha ficado atrás do
grupo, por ter parado para urinar junto a um carro”.
Segundo o documento, o jovem que testemunhou os factos, manteve-se
escondido e “esperou pelo menos 30
minutos, ainda no local, posteriormente ligou para os números dos amigos, que
para o seu espanto, começaram a dar desligado…”
O jovem que descreve os factos acredita que tenham sido
confundidos com organizadores da manifestação marcada para aquele dia. Transcrevemos:
“É de salientar que os 4 jovens, segundo
o relato de um deles, entoavam canções e falavam algumas frases em voz alta,
até a abordagem da polícia, frases como por exemplo: “NINGUÉM NOS PÁRA HOJE…
HOJE É O NOSSO DIA… VAMOS AQUECER O MAMBO, ETC.”. Que segundo o jovem,
tratava-se de uma segunda festa para onde iriam no final daquele dia. Pelo
carácter das frases, o jovem acredita numa possível confusão ou
má-interpretação dos oficiais da polícia que os terão confundidos com os jovens
ligados ao movimento revolucionário, até porque ficamos a saber que naquele
dia, pela manhã, haveria uma possível manifestação a alguns metros de distância
do sitio onde se encontravam, isto é, no 1º de Maio.”
A família demonstra o seu desespero considerando o que
transcrevemos: “Tendo em conta a situação
política que vivemos atualmente no país e, não esquecendo do historial, isto é,
das operações das forças da segurança que resultam no desaparecimento de
pessoas que abraçam os movimentos de revolução, preocupa-nos imenso o desfecho
dessa história, que esperamos que os nossos familiares não tenham o mesmo
destino que outros ativistas como Cassule e Kamulingue tiveram.”
Estes factos foram também divulgados pelo Club K a 4 de
Dezembro de 14, com o título ANGOLA: Polícia confunde jovens com manifestantes
e rapta-os[1].
A 5 de Dezembro de 14, a OMUNGA recebeu um novo email de Martinho Patrício Ngonga onde informava
que o seu primo e os dois outros jovens, desaparecidos desde 22 de Novembro,
tinham aparecido.
De acordo às
informações, “os oficiais justificaram a
detenção dos mesmos pelo facto de entoarem hinos de carácter ofensivo e, que
dada a ocasião, isto é, a existência de uma manifestação naquela manhã,
demonstrava ligação com os organizadores da mesma (manifestação).” O jovem
esclareceu ainda que “Ele (o oficial)
disse que não nos fariam mal algum, disse que era para esperar algumas horas e,
daí seríamos libertos, mas pediram-me para desligar o meu telefone (eu era o
único que se fazia acompanhar do mesmo) para não comunicar com outros
manifestantes, pois eles ainda suspeitavam da nossa participação naquela
actividade”.
Os jovens que foram “raptados” por volta das 5 horas, ficaram
“detidos até às 09:30 que, segundo o
oficial, era para esperar baixar o clima da manifestação”
A OMUNGA congratula-se com o facto dos 3 jovens estarem a são
e salvo e que não tenham sofrido qualquer tipo de violência física. No entanto,
o acto aqui transcrito demonstra a violência policial com que tratam os jovens manifestantes.
O “rapto” destes 3 jovens por agentes policiais é testemunha
da acção abusiva e arbitrária que interfere na vida de todo e qualquer cidadão.
É intolerável o impedimento por parte dos agentes durante o “rapto”, de
qualquer contacto com a família, já que proibiram o uso do telemóvel.
Ao mesmo tempo, este facto mostra o terror que o caso Cassule
e Kamulingue invadiu as mentes de todos os cidadãos. Isto demonstra que Angola realmente
não está em Paz. O medo da guerra foi substituído pelo medo dos assassinatos e
raptos pelos órgãos do Estado.
Perante a presumível ilegalidade que envolve a acção policial
neste caso, a OMUNGA exige esclarecimentos por parte do Comandante-geral da
Policia Nacional bem como de um pedido de desculpas formal aos jovens que viram
a limitação dos seus direitos, apenas porque a Presidência da Republica quer a
todo o custo o silenciamento das vozes contestatárias e impedir o direito à
manifestação.
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