05/12/2014

ANGOLA NÃO ESTÁ EM PAZ - CIDADÃOS “RAPTADOS” POR AGENTES DA POLÍCIA

Edson Rafael Ngonga "raptado" a 22 de Novembro por agentes da policia

DECLARAÇÃO PÚBLICA

ANGOLA NÃO ESTÁ EM PAZ - CIDADÃOS “RAPTADOS” POR AGENTES DA POLÍCIA

A 4 de Dezembro de 14, a OMUNGA recebeu um email do cidadão que se dá pelo nome de Martinho Patrício Ngonga a expor o “desespero da família” em relação à possibilidade do seu familiar, conjuntamente com dois amigos, terem sido raptados e consequentemente tivessem tido “o destino que outros ativistas como Cassule e Kamulingue tiveram”.

De acordo ao documento em anexo ao referido email, com o título “DESESPERO NA FAMÍLIA – DESAPARECIMENTO DE UM JOVEM”, o Martinho Ngonga esclarecia que “desde as primeiras horas do dia 22 de Novembro de 014”, o seu primo “Edson Rafael Ngonga, de 27 anos de idade, residente e natural de Luanda” estaria desaparecido depois de “serem interpelados por 2 oficiais da Polícia Nacional, que por fim, acabaram por obrigar os jovens a acompanhá-los

Os jovens saíam “de uma festa no bairro do kaputo (congolenses)” quando os factos aconteceram e tinham previsões de irem a uma outra festa.

Ainda de acordo às informações, o grupo inicialmente era constituído por 4 elementos, tendo ficado um, que testemunhou a acção policial já “que na altura tinha ficado atrás do grupo, por ter parado para urinar junto a um carro”.

Segundo o documento, o jovem que testemunhou os factos, manteve-se escondido e “esperou pelo menos 30 minutos, ainda no local, posteriormente ligou para os números dos amigos, que para o seu espanto, começaram a dar desligado…”

O jovem que descreve os factos acredita que tenham sido confundidos com organizadores da manifestação marcada para aquele dia. Transcrevemos: “É de salientar que os 4 jovens, segundo o relato de um deles, entoavam canções e falavam algumas frases em voz alta, até a abordagem da polícia, frases como por exemplo: “NINGUÉM NOS PÁRA HOJE… HOJE É O NOSSO DIA… VAMOS AQUECER O MAMBO, ETC.”. Que segundo o jovem, tratava-se de uma segunda festa para onde iriam no final daquele dia. Pelo carácter das frases, o jovem acredita numa possível confusão ou má-interpretação dos oficiais da polícia que os terão confundidos com os jovens ligados ao movimento revolucionário, até porque ficamos a saber que naquele dia, pela manhã, haveria uma possível manifestação a alguns metros de distância do sitio onde se encontravam, isto é, no 1º de Maio.”

A família demonstra o seu desespero considerando o que transcrevemos: “Tendo em conta a situação política que vivemos atualmente no país e, não esquecendo do historial, isto é, das operações das forças da segurança que resultam no desaparecimento de pessoas que abraçam os movimentos de revolução, preocupa-nos imenso o desfecho dessa história, que esperamos que os nossos familiares não tenham o mesmo destino que outros ativistas como Cassule e Kamulingue tiveram.

Estes factos foram também divulgados pelo Club K a 4 de Dezembro de 14, com o título ANGOLA: Polícia confunde jovens com manifestantes e rapta-os[1].

A 5 de Dezembro de 14, a OMUNGA recebeu um novo email de Martinho Patrício Ngonga onde informava que o seu primo e os dois outros jovens, desaparecidos desde 22 de Novembro, tinham aparecido.

De acordo às informações, “os oficiais justificaram a detenção dos mesmos pelo facto de entoarem hinos de carácter ofensivo e, que dada a ocasião, isto é, a existência de uma manifestação naquela manhã, demonstrava ligação com os organizadores da mesma (manifestação).” O jovem esclareceu ainda que “Ele (o oficial) disse que não nos fariam mal algum, disse que era para esperar algumas horas e, daí seríamos libertos, mas pediram-me para desligar o meu telefone (eu era o único que se fazia acompanhar do mesmo) para não comunicar com outros manifestantes, pois eles ainda suspeitavam da nossa participação naquela actividade”.  

Os jovens que foram “raptados” por volta das 5 horas, ficaram “detidos até às 09:30 que, segundo o oficial, era para esperar baixar o clima da manifestação

A OMUNGA congratula-se com o facto dos 3 jovens estarem a são e salvo e que não tenham sofrido qualquer tipo de violência física. No entanto, o acto aqui transcrito demonstra a violência policial com que tratam os jovens manifestantes.

O “rapto” destes 3 jovens por agentes policiais é testemunha da acção abusiva e arbitrária que interfere na vida de todo e qualquer cidadão. É intolerável o impedimento por parte dos agentes durante o “rapto”, de qualquer contacto com a família, já que proibiram o uso do telemóvel.

Ao mesmo tempo, este facto mostra o terror que o caso Cassule e Kamulingue invadiu as mentes de todos os cidadãos. Isto demonstra que Angola realmente não está em Paz. O medo da guerra foi substituído pelo medo dos assassinatos e raptos pelos órgãos do Estado.

Perante a presumível ilegalidade que envolve a acção policial neste caso, a OMUNGA exige esclarecimentos por parte do Comandante-geral da Policia Nacional bem como de um pedido de desculpas formal aos jovens que viram a limitação dos seus direitos, apenas porque a Presidência da Republica quer a todo o custo o silenciamento das vozes contestatárias e impedir o direito à manifestação.

Sem comentários: