21/09/2009

JORNALISTAS AMEAÇADAS POR DENUNCIAREM

Jornalistas da RDC ameaçadas de Morte
Pela denúncia de casos de violação sexual contra as mulheres

Três jornalistas da Associação de Mulheres jornalista a Sul de Kivu, AFEM-SK, na República Democrática do Congo (RDC), Caddy Adzuba, Jolly Jamuto e Namuto têm recebido durante algum tempo, ameaça de morte. São profissionais conhecidas pelo seu trabalho de denúncia dos crimes de violência sexual cometidos por militares do conflito que se vive naquele país.
Apesar de estarem apenas a cumprir os seus papéis enquanto jornalistas e membros de uma sociedade, as três jornalistas trabalham igualmente na campanha internacional “Desafiando o Silêncio: Os meios de comunicação contra a violência sexual”, que, em Angola está a ser implementada pelo Fórum de Mulheres Jornalistas para a Igualdade n Género.
No Congo Democrático a campanha tem permitido, através de debates radiofónicos com especialistas onde buscam soluções imediatas de formas a pôr fim, ou se não mesmo, reduzir os crimes de violação sexual a que muitas jovens e mulheres são vítimas por parte os militares.
Apesar da relevância, este trabalho não é bem visto por uma esfera da sociedade congolesa, uma vez que a maior parte dos crimes são praticados por militares que tentam a todo o custo calar a voz destas três mulheres, como se lê no teor da mensagem enviadas em tom de ameaças.
“Vocês adoptaram maus hábitos, metendo-se em assuntos que não vos diz respeito, acreditam que pela vossa profissão são intocáveis. Agora algumas de vocês vão morrer para calar a boca, já temos a autorização para matar a Caddy Adzuba e depois será o turno de Jolly Kamutu e Namuto com um bala na cabeça”. Foi esta a última mensagem que as jornalistas receberam. As mensagens são enviadas por telefones mas todas as diligências feitas de formas a se achar os infractores revelaram-se insuficientes.
Caddy Adzuba é jurista e trabalha na Rádio Okapi. Este ano recebeu o prémio Internacional de Jornalismo, Júlio Anguita Parrado, na cidade de espanhola de Córdoba. Em uma entrevista com a organização holandesa, LolaMora Producciones, a jornalista de 28 anos afirmou que “graças a esperança de que um dia o nosso trabalho dará frutos e ajudará na pacificação do conflito”
Jolly Kamuntu é igualmente jurista e Jornalista da rádio Mindelo expressa que “as mulheres da AFEM-SK pensamos que não é possível que uma sociedade funcione com este nível de impunidade. “Somos profissionais dos meios de comunicação, temos o poder que nos dão os microfones e a través deles gritamos o que acontece e ajudamos a outras mulheres”, afirmou
Fonte: LolaMora Produciones

Declaração do Fórum de Mulheres Jornalistas

Para a coordenadora para a área do Género Emília Rita do Fórum de Mulheres Jornalistas para a Igualdade no Género (organização angolana), Fórum, que integra a campanha internacional em curso, não está alheio a esta situação e se solidariza com as companheiras, porque “lutamos todas para um ideal, a busca de respostas imediatase cobrar juntos dos órgãos de justiça uma respostas aos crimes de violência”.
Emília Rita prossegue dizendo que, como mulheres e profissionais do ramo, é importante que estejamos unidas com Jolly, Caddy e Adzuba, para que não se sintam sem forças. “Caso isto aconteça, deixarão de lutar, o que não queremos” diz.
Os crimes de violência sexual que acontecem na RDC são considerados como crime de guerra puníveis pelo Tribunal Penal Internacional. Aliado a este facto, as colegas utilizam o conhecimento e a forte arma que têm sobre as suas mãos, “os microfones” das rádios em que trabalham, aliando ao facto de serem juristas. “Elas pedem apenas para que se oiça os apelos das vítimas, que através delas expressam as suas vozes”, acrescentou.

O “histórico” conflito armado na RDC

A guerra no Congo (antigo Zaire), terminou oficialmente em 2003, mas o país continua sendo palco de intensos conflitos e enfrenta uma das piores crises humanitárias do mundo. Apesar de ser rico em diamantes, ouro e outros minérios, milhões de congoleses ainda sofrem em consequência do conflito, que ocorre no leste do país e os obriga a abandonar suas casas.
A origem do confronto na Província Kivu do Norte, cidade onde estão as jornalistas ameaçadas de morte, data de 1998, quando teve início uma guerra de cinco anos, que deixou 4 milhões de mortos e 3,4 milhões de refugiados. Ela foi detonada após o genocídio de 1994 na vizinha Ruanda.
Eleito em 2006, Joseph Kabila conseguiu desmobilizar vários grupos rebeldes e integrá-los ao Exército congolês. No entanto, o general Laurent Nkunda rejeitou o acordo e formou uma milícia para, segundo ele, proteger os tutsis da região de Goma, na fronteira com Ruanda. Intensos conflitos entre os homens de Nkunda e o Exército estão arrastando o país de volta na guerra.
A ONU (Organização das Nações Unidas) denunciou nesta sexta-feira que aumentou o número de deslocados internos e de casos de violência sexual na República Democrática do Congo, devido à campanha de desarmamento forçado das Forças Democráticas de Libertação de Ruanda (FDLR).
No Kivu Norte e Sul ainda há muitos crimes contra civis, incluindo casos de violação sexual a jovens e mulheres, homicídio, saque e destruição de casas.
Segundo um estudo realizado recentemente, 28% das pessoas entrevistadas conhecem alguém que foi vítima de violência sexual e 76% foram afectadas de alguma maneira pelo conflito armado. A maioria das vítimas de violações são mulheres, mas o número de vítimas homens e crianças engrandeceu.
Além disso, a ONU destaca que a proliferação de armas pequenas e ligeiras gera um risco maior de violência sexual, inclusive em zonas onde já não há enfrentamentos. Em um contexto de conflito armado, a violência sexual é um crime de guerra proibido pelo direito internacional humanitário. Por isso, é muito importante que a violência sexual não seja considerada um mero derivado da guerra", disse a assessora do programa Mulheres e Guerra, Nadine Puechguirbal.
Sobre a ajuda recebida pelas vítimas no país, a assistente social Micheline Mupenzi disse que "elas podem morrer se suas “feridas internas” não forem levadas em consideração. Algumas mulheres retornam a seus lares e param de comer, não fazem nada além de chorar e, eventualmente, morrem por um esgotamento mental e físico. Milhares de congoleses fugiram da última onda de violência na Província de Kivu Sul, no leste da RDC. O número de deslocados pelos conflitos no Congo, desde o início dos conflitos em Agosto de 2008, já chega a 1,8 milhão de pessoas, 536 mil das quais fugiram de Kivu Sul, desde Janeiro.

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