COMERCIANTES MANIFESTAM-SE JUNTO À ADMINISTRAÇÃO DO LOBITO
A Administração Municipal do Lobito decidiu encerrar os mercados da Aerovia e do Africano. Segundo apurámos, é usado como pretexto o acidente, em que um caminhão perdeu travões junto à praça da Aerovia, B.º da Bela Vista, a 26 de Setembro de 2009 que vitimou mortalmente 4 pessoas e 14 feridos.
Mais de cem vendedores daqueles mercado e incluindo vendedores do mercado do Bango-Bango (zona alta/ Bela-Vista), juntaram-se, desde a manhã de hoje (28/09/09) numa manifestação para reivindicar junto à Administração Municipal do Lobito pelo terreno da Salina (Zona Baixa) onde possam desenvolver condignamente as suas actividades comerciais.
Os negociantes alegam a distância, os táxis não chegam ao local, a falta de clientes e as péssimas condições (poeira, existência de cobras) que o espaço cedido pela administração apresenta.
“Está mal, está mal, estamos sem emprego e o povo do Lobito se dedica à venda informal” desabafa um comerciante.
“Subir no Bango-bango não! porque já passamos um ano e três meses com sofrimento, passas todo o dia a dormir e se não levares o dinheiros para o transporte, andas a pé” declara a manifestante.
“Temos famílias para sustentar e filhos a estudar, e tiram-nos a praça e assim estamos na rua.”
“Queremos apenas que a Administração nos autorize a vender no espaço da Salina, perto do Bar Africano e nós podemos pagar o caterpillar para pavimentar a área”, indica outra manifestante.
Segundo o Sr. José Liberal Correia, intendente, Comandante Municipal da Polícia, aceita o protesto como uma atitude normal “porque são seres humanos, reivindicam alguns direitos, etc., etc., simplesmente isso não vai de acordo à decisão da Administração. O que pretendemos fazer aqui é impor a decisão da Administração.”
Quando questionado se não acharia melhor que houvesse uma negociação com benefícios para os dois lados, respondeu: “É o que se está a fazer, a Administração exige que as pessoas, os feirantes, avancem para o Bango-Bango e é isso que estamos a tentar fazer, convencendo as pessoas seguirem para o Bango-Bango.”
Ainda durante esta conversa, questionou-se que no Bango-Bango não existem condições, ao qual o Sr. Comandante respondeu: “As condições criam-se, as condições criam-se, porque eu tenho a certeza que se aquilo ficar uma cidade com bancadas, luz, água e ruas asfaltadas, que é intenção da Administração, já havia iniciado com isso, já havia iniciado esse projecto, se essas condições se criarem, tenho a certeza que as pessoas vão por simpatia para lá, mas isso tem que ser feito também com a vontade das pessoas também lá. Se as pessoas ficarem cá em baixo, quando se sabe que há projectos ambiciosos, as zonas com espaços livres para eles se instalarem estão previstos grandes projectos, nós não podemos cair na asneira de deixar que as pessoas ocupem estas zonas, vai ser na mesma uma medida paliativa, provisória, que temos mais daqui a algum tempo é forçar as pessoas a subirem”.
Será que não seria melhor criarem-se primeiro as condições antes de se obrigarem a subirem as pessoas? Respondeu o Sr. Comandante: “O espaço existe, não deve é estar de acordo com as vontades das pessoas. O espaço está garantido. O espaço é aquele. Agora as pessoas alegam que os clientes não vão aceitar ir para lá. Mas isso é o que as pessoas dizem, pode ser verdade, mas vamos experimentar primeiro que as pessoas sigam para lá.”
Mas as pessoas já estavam lá e por isso é que estão a reclamar. “As pessoas estão a reclamar e vão continuar a reclamar que já estavam lá e por isso não podem voltar. Mas a Administração exige que regressem para lá para ocupar o lugar, regressem para lá e depois exijam da Administração as condições. Eu tenho conhecimento que a Administração já está a fazer esse esforço, mas eu não queria adiantar muito neste particular porque isto são pormenores da competência exclusiva da Administração. Simplesmente como polícia, estou é a tentar de forma educada, de forma humana, dizer que as pessoas devem voltar para lá porque esta é a exigência da Administração. Eu exijo que as pessoas regressem para lá, porque não temos necessidade de usar a força, não temos necessidade para isso. As pessoas estão a agir até de forma pacífica e por isso eu também, pacificamente, estou a pedir que as pessoas regressem para lá porque esta é a decisão da Administração e eu não posso contrariar, não posso contrariar isso. Não tenho este direito de contrariar, eu devo exigir que as pessoas acatem o conselho da Administração. Todas essas atitudes de rejeição das medidas da Administração é que deu origem ao acidente que houve. É preciso que as pessoas tenham aquilo como um sinal de aviso. Suponhamos que aquele veículo fosse uma cisterna, qual seria a opinião das pessoas? Iriam acusar as autoridades de incompetentes. É preciso que tenhamos cuidado com isso. Ninguém está aqui contra o povo, estamos aqui ao serviço das populações, mas as populações têm de aceitar as medidas da Administração, não podem impor a vontade delas, porque depois acontece aquilo que acontece e quem tem que assumir é a Administração, quem tem que assumir são as autoridades. Autoridades essas que agora estão a exigir que as populações subam para o Bango-Bango.” (Não, ouvem-se as pessoas ao lado) E continuou: “Gostaríamos que os órgãos da comunicação social fossem transparentes nisso por forma a que joguem um papel que possa facilitar todo este exercício que quero levar a cabo.”
“O que se vê é que nós só somos um povo, então até os da Kalumba, até os da Canata, o que estamos a procurar é só uma coisa. Então como é que só nós podemos subir e outros ficam. Todos temos que vender é aqui em baixo. Se é lugar, então têm é que arranjar lugar para todos. Não é agora, o povo é só único, os do Africano e do Chapanguele vão no Bango-Bango, os da Canata e da Kalumba ficam. Lá, ninguém nos vai comprar. Lá é para nos venderem. Lá é para darem espírito maligno nas pessoas. Uma pessoa fica lá, depois de uma semana, duas semanas, o dinheiro acabou, depois a pessoa desce aqui em baixo e começa a roubar. Para que não aconteça, se é que eles querem fazer uma praça, quando é mexer o povo, é mexer todo o povo, não pode haver escolha. Não é fazer escolha que Canta fica, Kalumba fica. Ai, só o do Africano é que não presta?! Se a Canata é que não mexem, então nós vamos ficar mesmo no Africano e não vamos sair. Se eles querem que nos matem mesmo aí!” explicou outro manifestante.
Mariana Tchombela desabafou: “A primeira coisa que queremos que aquela praça do Bango-Bango, pelo menos deveriam reparar aquela praça, asfaltar a estrada, fazer todas as coisas em condições. Depois começam a remover todas as praças. Isso vai ser muito bem! Eu acho que o MPLA é o povo, mas agora o povo já não fala nada!”
“O grande objectivo deste protesto é mesmo a revolta porque o povo está desesperado! Uma vez que o povo para fazer esta revolta já foi aldrabado várias vezes! Aldrabado pela Administração Municipal porque eu tenho uma longa história para dizer que quando o povo sai do mercado do Chapanguele pagava 100 Kz diário e lhes a prometer que poderiam demorar 90 dias no quintalão ali do Soares da Costa e isto não aconteceu! A demora de 90 dias levou 5 anos. Cinco anos, ao retirar, já não foi com carinho. Quando decidiram, queimaram as montras, enfim, urgentemente!!! O povo subiu! Era dia 10 de Agosto, quando o povo sobe naquele mercado, do Bango-Bango. Passando 90 dias, o mercado acaba por esvaziar, porque isto tudo, o povo volta no Compão, na Kalumba e noutros mercados. Saímos do Bango-Bango porque as pessoas passavam o dia a dormir. Os compradores lá já não vinham. 14 horas, a pessoa retira de lá. Já o comprador lá não vem. Por exemplo, se uma pessoa quer comprar uma coisa de duzentos, mesmo que estivesse a viver no bairro 27 de Março, não vai lá, a distância é muito longa, recorre num outro sítio, então aquele que lá se encontra passa o dia a dormir!” Então o que acha que a Administração poderia fazer? “O que a Administração poderia, não é o que poderia, é o que deve fazer, é preparar um lugar que vai de encontro às populações, que não seja ao lado da estrada. Por exemplo a cidade do Lobito, aqui na área do Africano, tem muito espaço. Se o acidente ocorreu lá em cima, porque desde há muito tempo que a Administração nunca ficou de acordo com as opiniões do povo. Porque quando eles prepararam o Chapanguele é para pôr toda a gente naquele quintal. Para não haver Kalumba nem Compão. E essas mentiras todas nunca aconteceu. Mesmo este povo que sábado, as máquinas destruiu as suas montras aqui na área do Africano, é o resto que estava lá no Bango-Bango. Mas para eles ocuparem aquele espaço onde estiveram desde Março até sábado passado, já foi preciso uma opressão. Não foi pela livre vontade. Sempre o povo vinha aqui ter com a Administração para ver lhe dava aquele espaço porque estavam morrendo de fome. E eles disseram que não, o mercado era lá! Vamos criar-vos as condições! Foi o mês de Março, já vínhamos aqui. Esta não é a primeira, não é a segunda! Já vários jornalistas lá apareceram que nos perguntar se o trabalho estava a ir bem. Ainda na altura que nos encontrávamos lá e a Administração sempre nos prometia que os outros viriam. Vamos preparar o lugar e isto não aconteceu. Não é a primeira vez que o povo vem aqui reclamar que a vida lá naquele mercado não está bom! Não é a primeira vez, não é a segunda nem a terceira. Só eu mesmo que estou a falar já fui entrevistado esta é a terceira vez. É por ali. E se o povo veio aqui pedir o espaço é porque o povo tem respeito. Não quer ocupar um terreno sem que a Administração dá prioridade. É por ali. É tudo o que eu tinha para dizer.”
Até à nossa saída do local, a Administração não tomou qualquer posicionamento relativo ao protesto e permanece a ideia de movimentar todas as pessoas para a praça do Bango-Bango.
Não temos fotografias da manifestação porque foram apagadas da nossa máquina pelo Intendente da 1ª esquadra do Lobito, Sr. António Adão que alega a impossibilidade de se fotografar a polícia por parte de quem seja.
Perante tal facto, a OMUNGA vai apresentar queixa junto das autoridades competentes.
OBS: ESTIVERAM NO TERRENO Isabel Paulo e Dino Jimbi
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