Guilherme Santos
Lubango, 15 de Março de 2010
Lubango, 15 de Março de 2010
Na opinião de vários quadrantes da sociedade, as demolições em si nunca foram postas em causa, mas sim a forma como foram realizadas. Os cidadãos são pela reconstrução do país, pelo crescimento económico e pela geração de riqueza. Sobre isso, estamos conversados! Porém, não devemos ficar por aí, porque as demolições feitas decorrem de causas e factores explícitos e implícitos, sejam ideológicas, modelo de desenvolvimento, interesses económicos, ética, etc. Por isso, é preciso desmistificar, desconstruir e apresentar alternativas e opções ao processo de demolições.
Por razões ideológicas, o discurso político das elites no poder tende a incriminar e culpar os pobres, pelos males que o Estado não teve capacidade de resolver ao longo dos anos. Por exemplo, as pessoas que fugiram da guerra para centros urbanos mais seguros; as que construíram casas onde podiam, sob o olhar silencioso, ou por vezes com cumplicidade de agentes da administração pública. Estas são uma das formas usadas para desviar as atenções das pessoas em relação às causas múltiplas que estão por detrás de fenómenos sociais complexos, que não se explicam somente pelo argumento de poder e legalista. A sociedade precisa de encarar esta questão em vários ângulos e com realismo.
Por outro lado, a procura de culpados ou do “bode expiatório” também não resolve. É preciso, sim, clarificar responsabilidades a todos os níveis e construir opções e saídas de forma inclusiva. Há uma infinidade de alternativas para fazer isso com justiça e sem sofrimento humano.
Outrossim, é o modelo dominante de desenvolvimento em Angola, baseado na modernização acelerada, megalomania, mais investimento no hardware do que no softwere, o betão, o ferro e o asfalto sobrepõem-se ao humano, ao social, ao ambiental, ao cultural, ao religioso e à espiritualidade. Esta mentalidade está a vincar, porque faz parte da classe política dominante, e nos é imposta de forma subtil, velada nos meios de comunicação que dominam o espaço público.
Sim senhor, os angolanos precisam de infra-estruturas e equipamentos sociais, contudo isso não deve ser feito à custa de outras dimensões de desenvolvimento. Ou seja, procurar sempre o equilíbrio entre a dimensão da modernidade - porque precisamos de educação e ensino de qualidade, de “subir na vida”, de ter acesso à técnica e à tecnologia, enfim, aos recursos modernos; a dimensão da identidade e da cultura, porque deve-se partir de dentro, do que é nosso, dos nossos valores e não contra nós próprios; a dimensão da participação, que já está consagrada na Constituição de Angola; ademais, a participação dos cidadãos na vida pública e nas decisões que afectam as vidas das pessoas é um desiderato da modernidade e civilidade; e, finalmente, a dimensão da mudança social, em que os diferentes poderes – político, social e económico interagem, conflituam e complementam-se.
O poder político deve ter consciência de que existem outros poderes, como o social, capazes de protagonizarem mudanças sociais e o curso dos acontecimentos.
A sociedade, aos diferentes níveis, incluindo as lideranças, devem aprender a aprender, tirar lições, melhorar e ir para frente, sem ódios, animosidades, nem vingança ou retaliações, mas com recurso ao perdão, à tolerância e ao arrependimento; o que torna possível uma caminhada conjunta.
Os desencontros e as contradições de opiniões e posições políticas que surgiram entre líderes da mesma filiação partidária, designadamente, do MPLA, chamaram atenção à sociedade. Porém, foi algo de bom para a democracia e constitui um avanço gerado pelo contraditório. O tempo está a encarregar-se em deixar para trás a dita unanimidade em que a ideia de uma pessoa é seguida cegamente pelo rebanho. Graças! Que assim seja sempre!
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