Pela importância do assunto e preocupação da matéria decidimos transcrever na íntegra o texto recebido do Lubango, a 13 de Maio de 2010, dos activistas cívicos que estão no terreno a acompanhar a acção de demolições massivas levadas a cabo pelo governo provincial da Huila, na pessoa do Governador provincial, Isaac Maria dos Anjos:
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As consequências das demolições no Lubango
São 17 horas do dia 12 de Março na cidade do Lubango. Terminaram as demolições no eixo urbano da linha ferra. Dizem que na Segunda-feira vai começar a “limpeza demolição” de casas que foram construídas debaixo da linha eléctrica de alta tensão que conduz a energia da Barragem da Matala ao Lubango e Namibe. As notificações sobre as demolições já foram distribuídas pelo Governo à população na Quarta-feira passada.
As duas emissoras de radiofonia, a RNA e a Rádio 2000, uma rádio Comercial que emite em frequência modelada, continuam em “silencia” em relação às demolições. Diz-se que receberam ordens de cima, directamente do Gabinete do Governador Provincial da Huíla, Isaac dos Anjos. Os jornalistas locais estão indignados com isso, mas o “silencia” mentem-se. Esta responsabilidade é local ou central que envolve a actual Ministrada Informação?
As coisas que são contadas por cidadãos directamente afectados são indescritíveis. Fala-se de um caso em que a família estava em óbito e ainda com o cadáver dentro de casa. O operador da máquina pediu que se retirasse o cadáver e logo a seguir a casa foi impiedosamente derrubada. As pessoas ficaram com o cadáver fora e sem saber o que fazer. Muitas vozes e testemunhas disseram que houve morte de pessoas durante as demolições. Há cidadãos que defendem uma investigação imparcial e independente para apurar responsabilidades judiciais e políticas. Haverá indícios de crime público? Qual será a posição destes abusos face a tolerância zero? A ver vamos!
Várias fontes disseram que durante a “operação demolição”, alguns responsáveis provinciais que fazem parte do Governo Provincial desdobravam-se tentando salvar vidas e bens. Houve mesmo casas que não foram demolidas porque, por exemplo, numa delas encontrava-se uma velha que morava com um cego. Noutra estava um oficial do exército idoso e mutilado. Tudo isso foi feito à revelia do “senhor” que comandava pessoalmente as demolições.
Agora começou o peso das consequências da “operação demolição”! As autoridades do Governo Provincial e Administração Municipal do Lubango que estão a actuar na área de Tchavola (zona de realojamento), desdobravam-se e tentavam superar as dificuldades e os desafios. Distribuir tendas, parcelas de terrenos, ver o problema da água, pessoas sem tendas, ao relento e desesperadas. A chuva a persistir e a cair em cima das pessoas. As crianças que foram deslocadas distante das suas escolas, mal tinham começado as aulas. O táxi não existe na área, mas os mototaxi - vulgo “cupapata” já chegaram lá. Todavia, lá fica mais longe da cidade, da praça e é mais caro. O sofrimento dos que pensam na casa que os albergou durante anos! Fazer mais poupança e construir outra? É um dilema à mistura de angústia e profundo sofrimento. As pessoas estão a precisar desesperadamente de todo o tipo de apoio, incluindo o espiritual. Enfim, os efeitos políticos, sociais, psicológicos, económicos, morais ainda vão perdurar por muitos e muitos anos. Aliás, estas demolições despertaram a memória colectiva do povo sobre a maldita guerra e o tempo de deslocados e deslocamentos forçados.
As comissões de trabalho que o Governo criou antes das demolições não incluíram a dimensão psicólógica, pedagógica, médica, sociólógica e tão pouco o fizeram depois.
Há também consequências organizativas e de gestão desta complexidade de fenómenos sociais e humanos extremamente complexos. Há um défice de lidar com este tipo de problema que requer outro tipo de resposta. Ainda não existe uma avaliação do impacto da demolição, desalojamento, deslocamento e tentativa de realojamento das pessoas – homens, adultos, mulheres, rapazes e raparigas, crianças e velhos, cada uma destas franjas é afectada de maneira diferente. Por exemplo, hoje, as pessoas ficaram toda a manhã à espera de quem distribui as parcelas de terra e nem sequer havia informação sobre isso. As pessoas estavam paradas à espera, isto é, não há evidências de uma abordagem participativa para lidar com esta situação. Estas e outras são certamente áreas de apoio necessário para quem está a administrar este problema. É nestas alturas que o Governo deveria procurar pessoas e organizações com este tipo de conhecimento e experiência de desenvolvimento comunitário e de abordagem em direitos humanos, em circunstâncias de emergências e normais.
Última hora:
Fontes locais disseram ontem o Governador Provincial da Huíla, Isaac dos Anjos foi chamado a Luanda onde já se encontra.
Esta manhã de Sábado, dia 13 de Março, chegaram ao Lubango dois deputados da UNITA, nomeadamente, o Lucamba Gato e o Jaka Jamba.
As duas emissoras de radiofonia, a RNA e a Rádio 2000, uma rádio Comercial que emite em frequência modelada, continuam em “silencia” em relação às demolições. Diz-se que receberam ordens de cima, directamente do Gabinete do Governador Provincial da Huíla, Isaac dos Anjos. Os jornalistas locais estão indignados com isso, mas o “silencia” mentem-se. Esta responsabilidade é local ou central que envolve a actual Ministrada Informação?
As coisas que são contadas por cidadãos directamente afectados são indescritíveis. Fala-se de um caso em que a família estava em óbito e ainda com o cadáver dentro de casa. O operador da máquina pediu que se retirasse o cadáver e logo a seguir a casa foi impiedosamente derrubada. As pessoas ficaram com o cadáver fora e sem saber o que fazer. Muitas vozes e testemunhas disseram que houve morte de pessoas durante as demolições. Há cidadãos que defendem uma investigação imparcial e independente para apurar responsabilidades judiciais e políticas. Haverá indícios de crime público? Qual será a posição destes abusos face a tolerância zero? A ver vamos!
Várias fontes disseram que durante a “operação demolição”, alguns responsáveis provinciais que fazem parte do Governo Provincial desdobravam-se tentando salvar vidas e bens. Houve mesmo casas que não foram demolidas porque, por exemplo, numa delas encontrava-se uma velha que morava com um cego. Noutra estava um oficial do exército idoso e mutilado. Tudo isso foi feito à revelia do “senhor” que comandava pessoalmente as demolições.
Agora começou o peso das consequências da “operação demolição”! As autoridades do Governo Provincial e Administração Municipal do Lubango que estão a actuar na área de Tchavola (zona de realojamento), desdobravam-se e tentavam superar as dificuldades e os desafios. Distribuir tendas, parcelas de terrenos, ver o problema da água, pessoas sem tendas, ao relento e desesperadas. A chuva a persistir e a cair em cima das pessoas. As crianças que foram deslocadas distante das suas escolas, mal tinham começado as aulas. O táxi não existe na área, mas os mototaxi - vulgo “cupapata” já chegaram lá. Todavia, lá fica mais longe da cidade, da praça e é mais caro. O sofrimento dos que pensam na casa que os albergou durante anos! Fazer mais poupança e construir outra? É um dilema à mistura de angústia e profundo sofrimento. As pessoas estão a precisar desesperadamente de todo o tipo de apoio, incluindo o espiritual. Enfim, os efeitos políticos, sociais, psicológicos, económicos, morais ainda vão perdurar por muitos e muitos anos. Aliás, estas demolições despertaram a memória colectiva do povo sobre a maldita guerra e o tempo de deslocados e deslocamentos forçados.
As comissões de trabalho que o Governo criou antes das demolições não incluíram a dimensão psicólógica, pedagógica, médica, sociólógica e tão pouco o fizeram depois.
Há também consequências organizativas e de gestão desta complexidade de fenómenos sociais e humanos extremamente complexos. Há um défice de lidar com este tipo de problema que requer outro tipo de resposta. Ainda não existe uma avaliação do impacto da demolição, desalojamento, deslocamento e tentativa de realojamento das pessoas – homens, adultos, mulheres, rapazes e raparigas, crianças e velhos, cada uma destas franjas é afectada de maneira diferente. Por exemplo, hoje, as pessoas ficaram toda a manhã à espera de quem distribui as parcelas de terra e nem sequer havia informação sobre isso. As pessoas estavam paradas à espera, isto é, não há evidências de uma abordagem participativa para lidar com esta situação. Estas e outras são certamente áreas de apoio necessário para quem está a administrar este problema. É nestas alturas que o Governo deveria procurar pessoas e organizações com este tipo de conhecimento e experiência de desenvolvimento comunitário e de abordagem em direitos humanos, em circunstâncias de emergências e normais.
Última hora:
Fontes locais disseram ontem o Governador Provincial da Huíla, Isaac dos Anjos foi chamado a Luanda onde já se encontra.
Esta manhã de Sábado, dia 13 de Março, chegaram ao Lubango dois deputados da UNITA, nomeadamente, o Lucamba Gato e o Jaka Jamba.
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