16/03/2010

MEDO E PÂNICO INVADEM POPULAÇÕES DO LUBANGO

Atendendo à importância da matéria decidimos transcrever o texto a baixo que recebemos de Bernardete Lutucuta (abrigo.devworks@huambo.angonet.org)
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Medo e pânico invadem populações do Lubango
É curioso que os desastres naturais são imprevisiveis e os Governos estabelecem sistemas de alerta rápido e despoletam-se mecanismos de resposta rápida quando eles acontecem para atenuarem os seus efeitos.
Relativamente as demolições do Lubango, nem um nem outro mecanismo foi accionado com a gravante que o desastre foi causado por uma decisão sem terem sido pesadas as consequências de tal acto. Se fosse possível evitar-se-iam os desatres. No caso de Angola criam-se.
O municipio do Lubango tem 3 comunas a saber: Arimba, Kilemba, Hoque. E o municipio mais populoso da província ( com cerca de 20% da população) dos quais a maior densidade na cidade do Lubango. O muncipio do Lubango tem uma superficie de 3.140 km2 e uma população estimada em 1.414.115. Estima-se uma população entr 350 a 500 mil habitantes na cidade do Lubango dos quais a maioria vive nos bairros periféricos em casas construidas de adobe sem o minimo de condições sanitárias.
As demolições começaram Sábado dia 6 de Março de 2010. O dia seguinte amanheceu mais empoeirado do que outros dias. Era a poeira das casas derrubadas na véspera.
Os órgãos de informação independentes estão impedidos de colherrem informações com mais evidências. Toda a operação está rodeada de um aparato policial forte impedindo que se tirem fotografias, se entrevistem pessoas no local e se compilem dados com maior rigor estatístico.
Não há nenhum lugar no bairro ou proximo onde os populares podem buscar a informação sobre os critérios, processo, onde as pessoas serão levadas, qual será o seu futuro, que compensações esperam do governo.
O Sr. Governador da província organizou um programa radiofónico para se esclarecerem todas as dúvidas da população, com impacto limitado, porque a população precisava de encontros a nivel dos seus bairros. Além disso, o tom da entrevista era mais intimidatório do que com possibilidade negocial. Toda a operação é caracterizada com um tom de arrogância.
Segundo informações colhidas as casas a serem derrubadas são as no sope da montanha, debaixo e ao lado das linhas de alta tensão, nos leitos dos rios, ao lado dos rios, ao longo das condutas de água e ao longo das linhas ferreas. Numa primeira fase serão derrubadas casas num raio de 50 metros da linha ferrea. Informacoes mais actualizadas dizem que o raio é de 25 metros. Entretanto nos primeiros 3 dias já o dano estava feito.
A linha ferrea do Caminho de Ferro de Mocamedes – CFM atravessa a cidade do Lubango numa extensão aproximada de 10 Km. A julgar pela forma como as populações constroem as casas de adobe, estimam-se mais de 10 mil habitações visadas nesse processo.
Se considerarmos que a densidade populacional média da população é de 5 habitantes, então estimam-se mais de 50.000 habitantes afectados.
O problema poderá atingir proporções apocalipticas quando o Governo da Província da Huila passar para a fase II ( demolições de casas debaixo e ao lado de linhas de alta tensão, no sope da montanha, nos leitos dos rios, etc.).
Não existem informações detalhadas e com rigor matemático para se descrever o sofrimento das populações. Embora se diga que as populações foram avisadas a 15 dias, o tempo dado não foi suficiente para se prepararem dada a envergadura do problema.
Eis aqui o invetário da dimensão social do problema:
•Danos avultados com a destruição das habitações das populações. As populações perderam as suas casas e outras propriedades como hortas, negócios, lugar privilegiado em termos de acesso, número de clientes.
•As populações estão a ser concentradas num campo com tendas sem o mínimo de condições em termos de saneamento ambiental.
•Os “campos de concentração” são Chavola a 10 km d do centro da cidade. As tendas que estavam a ser distribuidas acabaram e por conseguinte as famílias começaram a ser concentradas na Escola 14 de Abril no bairro da Sra do Monte, na Escola 1 de Dezembro no bairro da Sofrio e no Estádio de futebol Tundavala, o novo estádio construido na àrea da Kanginda situada a 5 km do centro da cidade.
•Algumas escolas terão de suspender as aulas por terem sido ocupadas pelos desalojados.
•Muitas crianças foram forçadas a suspender as aulas por terem sido desalojadas e colocadas em lugares distantes da escola onde habitualmente estudavam.
•Previsões de existência de surtos epidémicos porque a população ficará nesses campos indefinidamente.
•Interrupção do processo produtivo e de subsistência das populações.
•Provável aumento da delinquência.
•Traumas psicológicos em populações que vem o seu habitat natural destruido e esforço em vão de anos a fio de investimento para construirem suas propriedades.
•Familias que dormem ao relento com crianças pequenas sem assistência alimentar.
•Igreja adventista em pleno culto desalojada e destruido o seu templo.
•Residências de populares em óbito, cidadãos obrigados a sair removerem o cadáver e continuarem com o óbito em outro lugar.
O aparato policial, a arrogância que rodeia toda a operação não dão margem para qualquer tipo de reacção isolada. O tom é de resignação que se ouve nos aglomerados tímidos das populações, conversas nos táxis, nas praças e pela calada da noite.
O medo e o pânico instalou-se nos bairros periféricos. A desconfiança de serem presos por reclamar, o conformismo é o que se nota. Na face das mulheres as lágrimas de um futuro adiado, na face dos homens a impotência ante uma máquina impossível de se parar. É o caos total, o desespero e o inicio de um desastre que poderá atingir proporções apocalipticas.
Por: Luís Samacumbi

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